A bartonelose felina é uma doença infecciosa, ocasionada pela bactéria pertencente ao gênero Bartonella, que esporadicamente causa alterações significativas nos gatos, entretanto possui grande relevância para a saúde pública, pois trata-se de uma zoonose, conhecida como doença da arranhadura do gato (DAG) ou doença de Teeny. As bactérias do gênero Bartonella são cocobacilos gram negativos, intracelulares que se aderem as hemácias e células endoteliais do hospedeiro, microaerófilas com distribuição predominante em regiões de clima quente e úmido.
Os gatos são reservatórios da Bartonella henselae, e considerados reservatório potencial da Bartonella quintana. A infecção no felino ocorre através da ingestão das fezes de pulgas da espécie Ctenocephalides felis, sendo considerada improvável a transmissão direta entre gatos, mesmo pela via transplacentária.
Quando infectados, na maioria dos casos, os felinos apresentam-se assintomáticos e outros podem demostrar poucos sinais clínicos, como febre, letargia, anorexia, linfadenopatia regional e em casos mais extremos ocorre miocardite. O diagnóstico é realizado por cultura do agente ou PCR. O tratamento é algo difícil, podendo haver necessidade de ciclos de antibioticoterapia, à base de doxiciclina, amoxicilina com clavulanato de potássio, caso não haja resposta, pode-se considerar o uso de azitromicina ou marbofloxacina.
A infecção por Bartonella spp. em humanos é responsável por doenças graves que podem levar o indivíduo a óbito, principalmente em imunocomprometidos, entre elas a doença da arranhadura do gato (DAG), endocardite, encefalopatia e meningite asséptica. A transmissão da DAG para o homem ocorre por inoculação direta pela arranhadura, mordida ou lambedura do animal infectado. Estudos revelam que em média 95 % dos pacientes tiveram contato com gato, 4% com cachorro, enquanto 1% não houve história de contato animal. Em um estudo, os pacientes com DAG eram proprietários de pelo menos um gato com 12 meses ou menos, com ectoparasitas (pulgas ou carrapatos), semi-domiciliado e foram arranhados ou mordidos pelos felinos.
A DAG é mais descrita em crianças, sendo comum nos Estados Unidos, representando a principal causa de linfadenopatia crônica na infância. No Brasil há poucos estudos sobre os casos, entretanto a pesquisa realizada por Slhessarenko et al (1996), no município de São Paulo mostrou que 46% dos gatos domésticos testados pelo IFA foram positivos para anticorpos contra a espécie B. henselae. De acordo com De Souza (2011), condições climáticas favoráveis, a ampla presença do reservatório animal e da tendência à resolução espontânea, torna-se possível que a doença da arranhadura do gato seja frequente em nosso meio.
As manifestações clínicas no humano são variáveis, desde assintomática até a forma grave, podendo levar a óbito, sendo a linfadenite benigna a principal alteração clínica, fazendo o indivíduo buscar por atendimento médico, nota-se surgimento de pápulas ou vesículas não pruriginosa no sítio de inoculação, ocorrendo principalmente na região cervical, axilar e inguinal, surgindo de 1 a 7 dias após a inoculação. Outras manifestações, como febre baixa, hiporexia e prostração podem ser observados. Já foi descrito o acometimento conjuntival associado à linfadenopatia ipsilateral pré-auricular ou síndrome de Parinaud, hepatoesplenomegalia e, infrequentemente, eritema nodoso, púrpura trombocitopênica e osteomielite. Em pacientes imunocomprometidos, foram relatos tremores, sudorese noturna, mialgia, anemia hemolítica, placas cutâneas hiperpigmentadas, nódulos subcutâneos e intensa linfangite.
O diagnóstico em humanos é baseado em achados clínicos e epidemiológicos, podendo ser realizados exames microbiológicos como gram e cultura de secreção em meio enriquecido como ágar chocolate ou ágar sangue. Os exames sorológicos visam detectar no soro do indivíduo anticorpos específicos para as espécies de Bartonella, e tem sido um dos métodos mais empregados, por meio de imunofluorescência indireta e imunoenzimático. O tratamento de escolha são medicamentos macrolídeos como azitromicina e eritromicina, podendo ainda ser utilizadas doxicilina, rifampicina, sulfametoxazol+trimetoprima e quinolonas.
Como citado ao decorrer do texto, o contato com gatos é considerado fator de risco para a transmissão da DAG, animais com infestações por pulgas, livre acesso à rua e que partilham ambientes com aglomerado de animais são fatores que aumentam a possibilidade de infecção. Os proprietários devem estabelecer medidas, como evitar infestação por pulgas, manter os gatos domiciliados e distantes de animais errantes. Além de distribuição de informativos sobre bartoneloses à comunidade em geral e profissionais da área da saúde, pois a negligenciação contribui para disseminação da infecção e aumento de casos não tratados adequadamente. Diante do exposto, deve-se ressaltar a importância e riscos das bartoneloses na saúde pública, sendo necessário que profissionais da área da saúde conheçam os principais aspectos ligados a infecção por Bartonella spp. Bem como, atentar-se em diagnosticar precocemente a patologia, visando aplicar o melhor tratamento e alternativas de prevenção e controle, evitando assim, a disseminação da doença.
* Fonte: Bartonelose Felina e sua Importância na Saúde Pública: Revisão de Literatura, de Anália Caroline Monteiro de Souza, Andreza Monique do Egito Alves Cordeiro, Juciana Aparecida Nascimento Silva, Kaio Fernandes Freitas, Lais Oliveira Ferreira, Lisandra Hermalls Gomes Aredes, Maysa Maria Freitas dos Santos Souza, Mikaelly Marina Hanne Soares Damasceno e Roberto Rômulo Ferreira Silva.
* Foto: Segredosdomundo.r7.com.