No início imaginei que o silêncio dentro de mim seria momentâneo, como já aconteceu outras vezes. Depois, o pessoal voltava e tudo continuava como dantes no quartel de Abrantes. Mas dessa vez foi diferente, pois retiraram todos os móveis, e eu, bobinha, pensei que estavam renovando o mobiliário. A ausência se estendeu demais da conta e nada de mobiliário novo chegar. Foi então que comecei a reparar o mato crescendo no quintal e na frente. Mas, ó dor, quando reparei que a árvore no passeio estava secando, obviamente envenenada, aí a ficha caiu: vou ser demolida! Por que logo pensei nisso? Ora bolas, geralmente quando vão demolir uma casa para construir um edifício no lugar a primeira coisa que acontece é a retirada da árvore. Aqui no meu caso, ao invés de cortá-la viva, resolveram matá-la primeiro. Ó minhas duas mangueiras que tantos frutos produziram e alegraram as crianças e os adultos. Será que vão cortá-las vivas ou vão primeiro matá-las como a árvore do passeio? Pouco importa agora pra mim, pois estou no manjado beco sem saída. Pra todo lado os edifícios estão invadindo por sobre as casas sem dó e nem piedade e por aqui¹ não está sendo diferente. Fechou o cerco sobre mim, o cruel progresso me alcançou e ocasionou aí as primeiras demonstrações do meu futuro, logo ali, pertinho, me esperando. Alô, História de Patos de Minas, estou em você, evidência real. Igualmente, como evidência real, quando eu partir, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Major Gote entre suas colegas Araguari e Formiga.
* Texto e foto (30/06/2024): Eitel Teixeira Dannemann.
