Certa vez, questão de um ano no máximo, um bêbado daqueles tradicionais que desprestigiam o Mercado Municipal e seu derredor, passava pelo passeio bem à minha frente¹ quando, não conseguindo manter o equilíbrio no piso em declive, esborrachou-se com a cara no chão e ficou estirado por um bom tempo bem no local onde outrora havia um pé de Jacarandá Mimoso. Após uns quinze minutos, o etílico sujo e fedorento fez um esforço tremendo para se levantar e sumiu de minhas vistas. Até hoje não sei como escapou de descer rolando e parar nas águas fétidas do Córrego do Monjolo. Então me lembrei do Jacarandá e do momento em que foi decretada a sua morte. Aquele bêbado estendido em seu pedacinho de chão era o retrato em preto e branco dos restos vegetais esperando o transporte. O alcoolizado tombou e se levantou como um zumbi, a árvore foi tombada, esquartejada e sumiu daqui. Foi-se o vegetal, e a partir daquele dia percebi que nada é eterno.
São determinados fatos como aquele acorrido na vida da gente que nos despertam para a realidade, a brutal realidade de que um dia tudo se acaba. Eu ainda não tinha reparado nesse espanador da Lua aí atrás de mim. Obviamente ele surgiu no lugar de uma das minhas colegas. A propósito, são inúmeros os edifícios que estão ocupando os nossos lugares, evidência bestial de que os humanos já decretaram o fim de nós, os imóveis antigos. O que pensar? Aliás, o que sentir: desespero… angústia… lassidão? De que adianta ter sentimentos? De que adianta essa minha estampa arquitetônica diferenciada? Os humanos não têm piedade alguma conosco, nos usam por décadas e depois de todo o tempo de acolhimento nos transformam num monte de entulhos. Antigamente eu olhava lá para baixo e admirava um curso d’água serpenteando por entre uma linda mata. Hoje, é concreto, aço e inundações terríveis. Não me resta mais nada a não ser esperar o meu fim. E fazendo parte da História de Patos de Minas, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua Teófilo Otoni entre suas colegas Agenor Maciel e Dr. Eufrásio Rodrigues.
* Texto e foto (15/11/2018): Eitel Teixeira Dannemann.