São tantas iguais a mim nessa cidade, ou pelo menos muito semelhantes, que fico a imaginar de onde tiraram a ideia, quem foi o responsável por nos construir assim. É o típico comum da época: uma janela frontal, um pequeno alpendre e um espaço ao lado para servir de garagem. E geralmente com a fachada no limite do passeio. Óbvio que quem as construía não era abonado, pois os abonados construíam casarões chiques com arquitetura diferenciada. Já teve um mundaréu de nós nessa rua¹ e nas adjacências, até muitas lado a lado. Coisa esquisita é que de muito tempo para cá foram desaparecendo com tipos como nós. Será o que esse povo tem contra a simplicidade? Do lado de lá da rua, lá na esquina com a praça, derrubaram umas duas ou três e hoje está lá o baita edifício. Por que estão acabando conosco e construindo edifícios sobre os nossos escombros? Isso está me deixando encucada. A cada dia que passa, aumenta minha agonia. Para piorar a minha neura, dia desses que não volta mais minhas paredes captaram sensações fora do padrão normal. Notei certa inquietação nas almas que me habitam, muita conversação e uma palavra quase me jogou ao chão: vender. Vão me vender? Para que? Imediatamente reparei em volta, nos edifícios sendo erguidos. Resolvi não sofrer com isso. Continuei na esperança. Mas, ô desgraça, meu mundo ruiu quando afixaram em mim o vende-se. Se eu tivesse pleura, era como se tivesse levado um tiro na pleura. Aí então caí na real, na real de que sou unicamente um grãozinho de areia na História de Patos de Minas e que meu fim chegará, sei lá quando, mas chegará. E quando chegar, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua Major Gote entre suas colegas Ceará e Lauro Santos.
* Texto e foto (08/04/2019): Eitel Teixeira Dannemann.