Não, Armindo, lavagem nasal não é limpeza nas dependências da NASA. Também não, Armindo, olheiro não é um amontoado de olhos. Espirituoso o aposentado Armindo, caboclinho ajeitado que praticamente toda manhã se junta com alguns amigos no entorno da banca de revistas em frente ao antigo Fórum e nessa o papo vai longe, principalmente sobre a inocuidade do nosso poder público. Certa vez, assim de repente, veio-lhe uma ideia espetacular:
– E se ninguém votasse nas próximas eleições? Já pensaram nisso, ninguém seria eleito, ia ser um baita abacaxi pro TSE e ficaria registrado o nosso desgosto por esses políticos furrecas daqui de Patos de Minas.
No início, os amigos riram da ideia do Armindo. Entretanto, a cada encontro entre eles a coisa foi se tornando séria até que todos concordaram. Mas como convencer os patenses, principalmente os familiares e amigos, a não votarem em nenhum candidato?
– Vamos espalhar isso pelo WhatsApp, cada um de nós espalha pros amigos e esses pros seus e por aí vai. Já pensaram na cara dos candidatos, vai ser uma humilhação pra eles, ninguém eleito por falta de votante.
E assim aconteceu, e a turma já contava com mais de 80 mil pessoas que se comprometeram a dar uma lição nos candidatos que prometem mundos e fundos e depois passam quatro anos sem cumprir as promessas, não resolvendo os problemas estruturais de Patos de Minas e ainda por cima infringindo à população essa zoeira danada de motos e carros com som.
Veio o 1.º turno e foi um imenso escândalo: meia dúzia de gatos pingados em cada sessão eleitoral. A notícia se espalhou Brasil afora, mundo afora e Patos de Minas mostrou ao Planeta o quanto está descontente com políticos fanfarrões que buscam apenas o poder, e não a incumbência de gerir seriamente o Município.
Enquanto o Justiça Eleitoral discutia o fato da ausência de 98% do eleitorado patense e como resolver a questão, a turma de amigos se divertia com o desapontamento dos candidatos. E ficaram mais felizes ainda quando começaram a receber mensagens de outros Municípios informando que os eleitores não compareceriam ao 2.º turno.
Armindo ria às pampas quando ouviu o interfone tocar. Ao abrir os olhos, se viu no sofá diante da TV ligada com uma reportagem sobre as eleições de Patos de Minas. Levantou-se apressado e atendeu o interfone: era a esposa que havia esquecido a chave. Ele voltou ao sofá profundamente decepcionado por ter cochilado e sonhado. Enquanto a esposa abria a porta, ele suspirou baixinho:
– Mas que a ideia é espetacular, isso é mesmo! Quem sabe um dia…
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.