Se não sabem, fiquem sabendo que já fui citada na revista Veja. Não quero nem saber se a reportagem estava ou não zombando da Cidade, só sei que o povo não gostou e protestou¹. Eu nem aí, garbosa como sou desde que fui erguida não fiquei dando atenção para falatório popular. Atenção estou dando ultimamente às transformações físicas da Cidade. Ouço direto as almas que me ocupam conversarem sobre isso. Alguns deles têm planos esquisitos na cabeça. Antes eu não dava a mínima pelota, principalmente quando diziam que eu chamo muito a atenção e isso é perigoso nesses tempos de ladrão saindo pelo ladrão, e que seria muito mais seguro morarem num confortável apartamento de cobertura. Foi então que comecei a reparar no aparecimento de prédios nos lugares das casas. E daí, pensei eu, chique como sou, quem vai ter a audácia de mexer comigo? Enquanto isso, os prédios ao meu redor foram surgindo, cada um mais bitelo que o outro. Até que certo dia eu me desesperei quando ouvi: – Daqui uns poucos anos não terá uma única casa nessa avenida, só prédios². Aí eu amuei legal, caiu a ficha, caí na real, pois quem falou isso foi o meu construtor. E desde esse dia estou contrita por, durante minha vida toda, considerar-me indestrutível. A grande verdade, inabalável, é que o rico vai para debaixo da terra que nem o pobre, e nós, esplendorosas ou humildes, seremos transformadas em escombros para ceder lugar ao progresso. Que seja, já faço parte da História de Patos de Minas, e quando eu for ruída, deixarei saudade”
* 1: Leia “Protesto Patense Contra a Revista Veja”.
* 2: O imóvel localiza-se à Avenida Getúlio Vargas, em frente à Escola Normal.
* Texto e foto (29/03/2020): Eitel Teixeira Dannemann.