Os humanos não acreditam que os imóveis têm a capacidade de se comunicarem uns com os outros. Mas, sim, temos a capacidade de enviar mensagens e quanto mais perto melhor, as mensagens chegam ao destino com clareza. Ao contrário, quanto mais longe, pior, e na maioria das vezes não há contato. Como nós fazemos isso? Usamos as radiações ultravioletas da luz solar. Desculpe-me, mas não vou tentar explicar como acontece, pois os humanos não entenderiam e jamais aceitariam essa realidade. Tenho conversado constantemente com as minhas vizinhas de lado, de frente e de fundo. O papo vai longe e a presença dos nossos ocupantes não interfere em nada. O assunto principal está aí atrás de mim: edifícios. As duas do meu lado estão em estado de pânico por perceberem a quantidade de nossas semelhantes que já não existem mais. E não é só por aqui não¹, tenho recebido informações que esse triste fenômeno está ocorrendo em toda a Cidade. Então, tenho tentado convencer essas minhas duas vizinhas e outras que o desespero não vai nos salvar, que o nosso destino é inexoravelmente um só: desmanche. Não tenho conseguido, e os lamentos de muitas são constantes e diários. De minha parte, há muito tempo, desde que percebi o primeiro deles, tenho me imbuído da necessidade de me preparar para quando chegar a minha vez. É o que estou fazendo, preparando minhas paredes, minhas janelas, minhas portas, meu telhado e até meu quintal para quando as máquinas chegarem eu também não entrar em estado de choque. Tenho total consciência de que faço parte da História de Patos de Minas e, ainda, que deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Professora Guiomar Ferreira Maia entre suas colegas Ouro Preto e Vereador João Pacheco, no Bairro Lagoa Grande.
* Texto e foto (28/04/2024): Eitel Teixeira Dannemann.