DEIXAREI SAUDADE − 195

Postado por e arquivado em 2022, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

É o epílogo do meu fim. Ou ainda, é o fim do meu epílogo. Tenho certeza que muitos viram nessas duas frases uma redundância, pois epílogo e fim são sinônimos. Acontece que eu, na sabedoria de minha estrutura, quero dizer que é o fim, o epílogo de minha existência, pois quando se finda o fim e quando se finda o epílogo, nada mais resta, é o fim e o epílogo de tudo. Se entenderam ou não, pouco me importa. O que me importa é essa minha agonia, essa minha ânsia, esse apertamento que me assombra. Há não muito tempo, eu era contornada por casas, somente casas, algumas que nem eu¹. Fulminantemente, minha vizinha da esquerda se transformou em entulhos para ceder lugar à nova moda: edifícios. Fulminantemente, várias vizinhas se transformaram em entulhos para cederem lugar à nova praga: o progresso vertical. Não mais que de repente, a minha vizinha à direita se transformou em entulhos e a modernidade que atende pelo nome de edifício está aí levantando mais um. Olho para a minha frente e vejo tristeza e desespero nas minhas semelhantes, como que já admitindo os seus futuros. Aí então, olhando para a esquerda e para a direita, vejo-me entre esses dois monstrengos me reparando com risos de escárnio como querendo me dizer: Tem dó coitada, sua vez está próxima. Vem logo aquele aperto nas minhas janelas e portas, e até o telhado estremece. Como eu disse, é o epílogo do meu fim, ou ainda, é o fim do meu epílogo, o fim-epílogo de tudo que, como nuvem negra, paira sobre mim. Só me resta esperar o derradeiro dia para eu entrar para a História de Patos de Minas, e, com certeza, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Avenida Paranaíba entre sua colega Getúlio Vargas e a Rua Dr. Marcolino.

* Texto e foto (17/04/2022): Eitel Teixeira Dannemann.

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