DEIXAREI SAUDADE − 93

Postado por e arquivado em 2019, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Vocês ignaros não sabem, mas imóveis, qualquer um, possui uma capacidade específica de sentir emoções através de seus tijolos, portas e janelas. Não adianta explicar porque ninguém jamais entenderia. Porque, se entendessem, nunca nos demoliriam como se estivessem esmigalhando uma mosca como fazem conosco. Mesmo assim, transpareço minha agonia atual, pouco me importando com as consequências. O que sinto atualmente é a agonia da falta de ar, é o desespero por estar espremida por esses dois edifícios. Eu senti demais da conta quando minhas duas colegas de lado foram derrubadas. É uma sensação esquisita, de insensibilidade daqueles que nos constroem. Não somos seres humanos. Nós temos a dádiva da eternidade. Os exemplos estão espalhados pelo mundo afora nas inúmeras construções de séculos e mais séculos. Prova de que, bem cuidadas, somos eternas. Então, pelos antigos abacateiros dos Queiroz, por que nos constroem e depois nos demolem? Só pelo sadismo de apreciar nossos escombros? Eu mesma, sim, eu mesma fui erguida no espaço de uma colega. E agora nos derrubam para levantar edifícios. E assim, aflita, angustiada, amargurada, pesarosa, desassossegada, atormentada e principalmente apreensiva, vou levando a vida sem ter a mínima noção de quando vou ser extinta como foram minhas duas vizinhas e todas as outras dessa avenida¹. Eu, que faço parte da História de Patos de Minas, um dia, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se à Avenida Getúlio Vargas em frente à lateral de baixo da Catedral de Santo Antônio.

* Texto e foto (18/08/2019): Eitel Teixeira Dannemann.

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