Atualmente me encontro naquela fase do sossego, da tranquilidade, da paz e por aí vai. Nada a ver com minhas características físicas, que podem ser notadas até pelos insensíveis. Estou me referindo à questão da sobrevivência, da condição de permanecer-me como casa por muito tempo ainda. Como as paredes têm ouvidos, e você sabe muito bem disso, ouço demais da conta sobre um tal de progresso que lá pras bandas do Centro e de bairros adjacentes está devorando atrozmente as minhas semelhantes para construir edifícios. O meu citado sossego, tranquilidade e paz é presente em mim porque aqui pro meu lado esse tal progresso só está atacando as casas antigas e humildes e construindo edifícios pequenos, como aquele lá em cima do lado esquerdo. Eu, como outras mais ajeitadinhas, por enquanto estamos seguras, e sei que ainda vai demorar razoavelmente pra que ele, o vil progresso, chegue até nós. Enquanto isso, curto o meu prazer de existir, de aconchegar as almas que me construíram assim como você está percebendo. Assim os dias vão passando e, óbvio, sinto por todas as outras que estão desaparecendo do mapa da Cidade e que agora fazem parte da História de Patos de Minas, o que, mais óbvio do que nunca, vai acontecer comigo sabe-se lá quando. E quando chegar a minha vez, mais um óbvio: deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua Maria da Conceição Borges Filha (à direita) com sua colega Antônio Marcílio Soares (à esquerda), no Barro Planalto.
* Texto e foto (10/09/2023): EitelTeixeira Dannemann.