Você sabe em que ano eu fui construída? Provavelmente, não, né. Vai imaginando aí, enquanto isso te digo que naquele tempo as casas eram poucas por aqui e a lagoa chegava aqui pertinho¹. Reparou que estou um pouco abaixo do nível do asfalto? É porque não havia calçamento em nenhuma das ruas e todas as casas ficavam no nível da rua de terra que era um poeirão na seca e uma barreira danada no tempo das chuvas. Como havia inúmeros descampados, ficava tudo cheio d’água. E a gente era simples, a maioria mais simples do que eu, chegando muitas a casebres. Então, sabe como é, né, de mansinho veio chegando o progresso e tudo foi mudando por aqui, com as casas mais simples sendo ocupadas por outras melhores ou edifícios, essa praga de edifícios. Veio o asfalto, e foi então que eu fiquei um pouco abaixo do nível da rua. Já imaginou em que ano fui construída? Ainda não? Vai pensando, enquanto isso te digo que os descampados foram todos ocupados, a lagoa foi tão diminuída pelo vil progresso que ficou longe de mim². E o trem não para nas mãos do progresso. Assim, uma a uma, vamos desaparecendo do mapa da Cidade. Sei lá como ainda estou de pé. Mas tenho ciência de que não será para sempre. Sim, vai chegar a minha vez, e como você não consegue imaginar quando eu fui construída, te digo: 1962. Pois é, tenho 61 anos de vida e já preparada para entrar pra a História de Patos de Minas. E mais do que óbvio, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Acre, entre suas colegas Espírito Santo e Minas Gerais, no Bairro Santa Terezinha. Ele foi construído por Fernando Kitzinger Dannemann, que morou com a família até 1966.
* 2: Leia “Loteamento Ilídio Caixeta de Melo”.
* Texto e foto (13/08/2023): Eitel Teixeira Dannemann.