Antigamente o povo tinha essa mania de construir a casa, geralmente simples assim como eu, no lugar do quintal e o quintal no lugar da casa. Aí fica a casa no fundo e essa área inútil à frente, onde os moradores não têm privacidade alguma. Coisa esquisita, sô. Aqui no meu entorno¹ tinha muitas delas que foram sistematicamente devoradas pelo progresso. É, aos poucos foram nos eliminando e nos substituindo por casas melhores e, o pior de tudo, por edifícios. Sabe-se lá porque ainda não mexeram comigo. Até agora, mas depois que as almas que eu abrigava se mandaram e colocaram uma placa de vende-se, sei não… Esse edifício aí do lado ocupou uma pouquinho melhor que eu. E essa aí mais jeitosa no outro lado que se cuide, pois os tais edifícios não perdoam ninguém. Eles chegam, nos desmancham, somem com nossos escombros e levantam os tais andares. Quando fui construída essa região era muito pobre, longe do Centro. Então a cidade começou a crescer para nosso lado e com isso, nós mais humildes, estamos sendo substituídas por edifícios. Voltando à placa de vende-se, definitivamente não acredito que quem me comprar vai me fazer uma reforma. Das duas uma: ou virá sobre meu terreno uma casa bem jeitosa, quem sabe até de dois andares, ou então mais um edifício. Fico com essa segunda opção. Que um dia eu vou ser demolida é fato, só não sei quando isso vai acontecer para eu entrar para a História de Patos de Minas. E aí, outro fato, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Barão do Rio Branco entre sua colega Prefeito Camundinho e a Avenida Paranaíba, no Centro.
* Texto e foto (17/06/2022): Eitel Teixeira Dannemann.
