Só peço um pouquinho do seu tempo e, com muita boa vontade, você vai entender a minha revolta. O que mais lhe chama a atenção? Esse predinho aí ao meu lado? Nadica de nada. Fixe o olhar no que está ao lado dele. Manjou? É aquele bitelo mesmo, que surgiu no lugar de uma de nós e que dizem as boas línguas foi moradia de um famoso professor¹. Agora manja aí pra trás. Reparou na quantidade de bitelos? Pois é, todos eles surgiram às custas dos nossos derrubamentos. Eu, voltada para a Praça Dom Eduardo e na esquina das Ruas Deiró Borges e Alfredo Borges durante sei lá quantos anos apreciei aí pra cima as casas existentes. E tristemente venho apreciando o derrubamento de uma a uma para a construção desses enormes edifícios. Está começando a entender a minha revolta? Vou mais além da simples revolta, tem também a indignação de nos derrubarem depois de anos e mais anos de serviços prestados aos nossos donos, sem um pinguinho de dó. E recentemente, quando derrubaram a segunda casa aí atrás de mim, mais do que nunca, apoderou-se de mim o temor, pois, se o progresso não respeita nenhuma de nós, vai me respeitar? O que você acha que vai surgir naquela casa? Óbvio, mil vezes óbvio, que será mais um bitelo. Vai daí o meu temor, pois a tragédia me ronda, furtivamente, só esperando o momento fatal para dar o seu bote e me transformar em escombros. Pra que? Ora, ora, ora! Pelo menos, com muito orgulho, faço parte da História de Patos de Minas e pelo menos mais ainda, com certeza absoluta, quando eu me for, deixarei saudade!

*1: Leia “Residência da Família do Professor Modesto”.

* Texto e foto (18/03/2023): Eitel Teixeira Dannemann.