Se essa rua fosse minha eu mandava ladrilhar com pedrinhas de brilhantes para o meu amor passar. Essa música foi muito cantada dentro de mim pela minha dona pra sua filhinha. Se a rua fosse realmente minha, eu mandava mesmo ladrilhar, só que não seria pra amor algum passar, pois onde já se viu imóvel ter amor por alguém. Tem ainda: Nessa rua tem um bosque que se chama solidão, dentro dele mora um anjo que roubou meu coração. Só me interessa aí o bosque, porque antigamente por aqui tinha árvores de montão, pra tudo quanto era lado, e essa de anjo roubar meu coração, nada a ver. Mas, peraí, por que estou falando essa baboseira? O negócio é me concentrar no que está chegando por estas minhas bandas, devagarinho, mas está chegando, e ninguém, absolutamente ninguém, segura: o progresso. Ele é avassalador, vai consumindo todo verde que encontra pela frente sem dó nem piedade. Olha aí pra trás, o vale do Córrego do Monjolo, uma mata densa que se transformou nisso aí. Triste! Pra mim, óbvio, que sou totalmente descartável, que a qualquer momento posso ser transformada em entulhos. Já para os humanos, o progresso é a glória, o suprassumo do sucesso, que eles costumam chamar de desenvolvimento. A vidinha boa por aqui¹ foi se esvaindo, está se esvaindo e num futuro muito próximo eu e minhas semelhantes seremos apenas lembranças na História de Patos de Minas. Fazer o que? Pelo menos deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Cônego Getúlio, quase esquina com a sua colega Farnese Maciel.
* Texto e foto (01/01/2023): Eitel Teixeira Dannemann.