MIELOPATIA DEGENERATIVA EM CÃES

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A Mielopatia Degenerativa (MD), ou Radicuiomielopatia Degenerativa, é uma enfermidade neurológica e progressiva, de aparição espontânea, que se manifesta, primariamente, como uma desordem nos tratos longos da medula espinhal toracolombar e acomete, principalmente, cães de raças grandes e gigantes. Inicialmente, acreditava-se que esse transtorno era específico da raça Pastor Alemão, sendo, por isso, denominada, por muito tempo, MD do Pastor Alemão. No entanto, tem sido diagnosticada em outras raças, como Pastor Belga, Husky Siberiano, Rotweiller, Collie, Boxer, entre outras. Não apresenta predisposição sexual e atinge mais comumente cães de 6 a 11 anos, mas já se encontram casos registrados em cães de 6 a 7 meses de idade.

A etiologia ainda é desconhecida, porém suspeita-se de uma disfunção imunomediada que afeta o sistema nervoso. Acredita-se que uma disfunção nos linfócitos T esteja relacionada com o problema, já que, na maioria dos animais afetados, essa disfunção estava presente. A causa pode estar ligada a algum fator que desencadeia a circulação de imunocomplexos, e estes, por sua vez, provocam danos às células endoteliais dos vasos sanguíneos do sistema nervoso central (SNC), produzindo inflamação local, principalmente pela ativação do sistema complemento. A fíbrina depositada nos espaços perivasculares degrada-se e estimula as células inflamatórias a migrarem para o local da lesão, com liberação de prostaglandinas e citocinas, ativando enzimas teciduais e a formação de radicais livres, levando a um dano tecidual. Vários trabalhos discutem uma relação entre essa patologia e a carência de vitamina E, sugerindo uma origem imunomediada, semelhante à esclerose múltipla em humanos.

É possível identificar, primeiramente, ataxia e paresia dos membros pélvicos. O quadro clínico pode ascender para os membros torácicos e desencadear sinais como flacidez, tetraplegia e atrofia muscular generalizada. Os sinais clínicos podem se manifestar bilateralmente, mas não necessariamente de maneira simétrica. Cães afetados podem não ser capazes de urinar em locais adequados devido à grave paraparesia ou incapacidade de se manter na postura de micção e de defecação. O tônus do esfíncter anal e o reflexo anal mantêm-se normais. O tônus muscular da cauda permanece inalterado e, de modo geral, o reflexo cutâneo do tronco permanece bilateralmente normal.

Para o diagnóstico podem ser utilizados o exame neurológico e alguns exames complementares, como testes sanguíneos, análise do fluido cérebro-espinhal (LCR), testes eletrodiagnósticos, imagens radiográficas, etc. A confirmação do diagnóstico é realizada por meio do exame histopatológico e anatomopatológico. É indispensável a realização de diagnóstico diferencial para outras afecções espinhais como tromboembolismo fibrocartilaginoso, neoplasias, fraturas vertebrais, abscessos epidurais, luxações, entre outros, por meio de radiografias simples, mielografia e ressonância magnética. O tratamento é conservativo e tem por finalidade manter a qualidade de vida do paciente. Ele é composto de cinco aspectos básicos: 1) exercícios; 2) tratamento suporte; 3) tratamento medicamento; 4) minimização do estresse e 5) qualidade de vida, o que compreende analgesia, controle de escaras, e manejo básico das funções geniturinárias.

Concluindo, a MD canina é uma enfermidade de incidência desconhecida e difícil de ser diagnosticada in vivo. Não existe atualmente um único tratamento realmente efetivo para essa enfermidade; porém, o uso combinado da administração de suplementos alimentares. vitamínicos, associados a sessões de fisioterapia e acupuntura, bem como terapia celular com células tronco, além do uso do carro ortopédico, pode prolongar a expectativa de vida do paciente com o máximo possível de qualidade.

* Fonte: “Mielopatia Degenerativa em cães: um desafio na Medicina Veterinária e na reabilitação animal”, de Denise Tabacchi Fantonp, Jean Fernandes Guilherme Joaquim, Katherine Palmina Colomba, Maira Rezende Formenton, Mônica Veras e Renata Ferreira de Guzzi.

* Foto:  Revistaveterinaria.com.br.

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