Uma das características do progresso é que, paulatinamente, o casario da região central da Cidade vai deixando de ser moradia para se transformar em comércio. É batata, não tem volta. Algumas famílias ainda resistem, teimosas que são. Essa é a primeira etapa. Depois vem a fase dois do progresso, que é a substituição do casario por edifícios. Olha aí atrás de mim a confirmação. Eu faço parte desse casario lá vai um mundaréu de anos e já sofri diversas intervenções estruturais. Depois de décadas funcionando como residência não escapei à primeira fase do progresso: transformei-me em imóvel comercial. As minhas entranhas hospedaram um cartório que não faz muito tempo se mandou, deixando-me solitária. Está aí a placa de aluga-se. Uma certeza eu tenho: vou hospedar um novo comércio. Mas, até quando? Todas as vezes em que eu reparo esses três monstrengos atrás de mim eu me pergunto: até quando existirei? Aí entro numa crise psicoestrutural e o passado corre célere por todas as minhas paredes, janelas, portas, telhas e o escambau. Vem então aquela ânsia da espera, tétrica espera do momento em que receberei a primeira marretada, essa o início da segunda fase do progresso. Não há saída, absolutamente nenhuma saída para nós, casas que formataram a Cidade e que vão sistematicamente sendo eliminadas sem a mínima dó. Só nos resta um único prêmio: fazer parte da História de Patos de Minas. E quando chegar a minha vez, deixarei saudade!

NOTA: O imóvel localiza-se na Rua Dr. Marcolino entre suas colegas Silva Guerra e Farnese Maciel.

* Texto e foto (17/04/2022): Eitel Teixeira Dannemann.