DEIXAREI SAUDADE − 172

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Que peteco virou a minha vida. Quando fui construída aqui¹ só tinha eu e o grande quintal, como todas as minhas semelhantes daqueles áureos tempos: nós e um quintal, e este quando grande, como no meu caso, quase sempre com jabuticabeiras e mangueiras. Meu construtor era apaixonado pelo Mamoré, por isso ouvi demais da conta nomes como Amálio, Dr. Fernando, Durango, Paulo Zanesco, Pezão, Tarzan, Tonho do Roque, Vado, Walter Caixeta e tantos outros. Eu sei que esqueci vários outros nomes importantíssimos na vida do Mamoré, mas imóvel também tem suas amnésias, deixa pra lá. O negócio é que com o transcorrer do tempo acabaram com o meu quintal e danaram a ocupá-lo com construções. Foram erguendo adendos, uma casa nos fundos e até o que era a minha frente foi transformada em comércios. Transformei-me sei lá em quem, uma barafunda danada. Com a sumida dos meus construtores e com todas essas mudanças não tenho mais a mínima ideia do tipo de imóvel que sou. Eu percebo lá no fundo aquele monte de edifícios e por aqui em volta e só fico a imaginar o meu destino. É certo que nós imóveis antigos estamos cedendo lugar aos edifícios em prol do disgramado progresso. É certo que vai chegar a minha vez juntamente com os meus adendos, pois nada, absolutamente nada segura o progresso. Não ouço mais vozes vindas do campo do Mamoré. Não ouço mais ninguém dentro de mim falando do Mamoré. Só me resta ficar esperando o dia do meu fim, tentando ao máximo suportar essa barulheira do progresso, principalmente essas nojentas motos ensurdecedoras, para enfim fazer parte da História de Patos de Minas, e assim, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Teófilo Otoni, entre sua colega Bernardes de Assis e Travessa Adolfo de Souza, ao lado da Praça Antônio Dias.

* Texto e foto (11/07/2021): Eitel Teixeira Dannemann.

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