SEU JOAQUIM E AS BOLACHAS DA TULIPA DO CHOPE

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Se tem uma coisa que o Seu Joaquim não gosta é de muvuca. Lá no seu cantinho, no sereno e calmo distrito de Pilar, onde com seu comércio criou as duas filhas que hoje, casadas e formadas, residem na Sede, é que se sente feliz e realizado com a companheira Maria José. Já na casa dos setenta anos, igual idade da esposa, os dois com muita saúde, de vez em quando, e só de vez em quando, criam coragem para visitar as filhas na muvuquenta Patos de Minas com suas motos e carros barulhentos por demais da conta, insuportáveis.

Recentemente, uma das filhas resolveu fazer um almoço num domingo para comemorar o resultado positivo de gravidez do primeiro filho. Seu Joaquim foi obrigado a pegar seu velho e conservadíssimo Corcel 1977 para se deslocar com Dona Maria José até a Sede no sábado de manhã, para que pudessem curtir o programado alegríssimo final de semana. E assim se deu. No sábado de tarde, por volta das cinco horas, a filha e o genro os levaram até o Centro Comercial Pátio Central. Na praça de alimentação, o genro pediu duas tulipas de chope. Acostumado com uma pinguinha de alambique de primeira qualidade, Seu Joaquim nunca havia experimentado chope. O genro o incentivou a provar, e ele gostou. Mas a Dona Maria José preferiu um suco de laranja. Num determinado momento, a filha e o genro os deixaram para fazer algumas compras e avisaram:

– Vamos demorar um pouquinho e podem pedir ao garçom o que quiseram, é por nossa conta.

E lá ficaram o Seu Joaquim saboreando o chope e a esposa saboreando o suco de laranja. Não demorou muito, o Seu Joaquim reparou numa espécie de cartão arredondado debaixo da tulipa do chope. Como gostou da bebida, logo pediu outra. E lá veio o garçom aconchegar a tulipa num outro cartão. E assim foi indo. Dona Maria José não se preocupou porque sabia que o esposo era experiente nas pinguinhas e que aquelas águas amareladas não perturbariam seus miolos. E não perturbaram mesmo, pois quando a filha e o genro voltaram, ele já tinha mamado oito tulipas e estava firme que nem prego no cimento seco. A filha logo indagou:

– Uai, vocês não pediram nada pra comer?

A mãe explicou:

– Filha, hoje num tô boa do estômago, por isso preferi não comer nada, só tô tomando esse suco de laranja, e seu pai só comeu essas bolachas que vem com o chope.

Imediatamente, Seu Joaquim explicou:

– Trem esquisito, sô, sem tempero de roça algum, tem gosto de papelão, num gostei não.

Ali ficaram mais algum tempo, veio uma saborosa porção de batatas fritas, mais um chope pro Seu Joaquim, dessa vez sem comer a bolacha, e sobre a comemoração no domingo, não temos informações.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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