Pouco tempo depois que fui construída fiquei sabendo que essa rua tem o nome de um padre¹. Mais do que óbvio, achei deverasmente esquisito, afinal, surgi quando o movimento em busca de prazer sexual era grande em quase todas as casas daqui e nas do entorno. Quanto a mim, bem, digamos que… acho melhor deixar pra lá. O negócio é que por aqui rolava muita safadeza. Vinha gente de tudo quanto era tipo, pobre, rico, comerciante, fazendeiro e não sei mais lá quem. Até que numa determinada época começaram as campanhas para acabar com a vadiagem nas casas. Foi tanta pressão que conseguiram expulsar as mulheres de vida fácil e aos poucos as mulheres de vida difícil foram ocupando as casas com suas famílias. E assim a rua foi se transformando numa rua como outra qualquer. E quando eu pensei que a paz reinaria para sempre, eis que as casas começaram a ceder lugar para os edifícios. Um dia começaram a construir um deles ao meu lado. Fiquei com a pulga atrás das estruturas. Mais adiante no tempo começaram a construir mais um edifício no meu outro lado. Aí fiquei com um montão de pulgas atrás das estruturas. Prontos os dois monstrengos, teve início a minha fase de sufocação. Espremida entre esses dois bitelos, fiquei sabendo que lá na frente está à venda uma casa, talvez a mais antiga de nós². Será para que? Ora, evidente que é para o surgimento de mais um edifício. Aí, sufocada como estou, mais um milhão de pulgas atrás de minhas estruturas, cochichando entre meus rebocos quando será a minha vez. Por um acaso alguma casa por aqui tem salvação? Jamais! Por isso, nada a fazer, a não ser esperar a minha efetivação como parte da História de Patos de Minas. E assim, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Padre Brito, quase esquina com sua colega Silva Guerra. Não há informação oficial da data em que essa via foi denominada como Rua Padre Brito, mas ela está presente na segunda demarcação da Sede da então Vila de Santo Antônio dos Patos, registrada em 15 de maio de 1915. Leia “Rua Padre Brito: Mas Qual Brito?”.
* 2: Leia “Relíquia Imobiliária na Rua Padre Brito”.
* Texto e foto (27/07/2022): Eitel Teixeira Dannemann.
