DEIXAREI SAUDADE − 135

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Lembro-me como se fosse hoje daquela linda moça a bailar dentro de mim¹. Não esqueço quando aquele moço² se aproximou dela e depois fiquei sabendo do casamento. Aqui nas minhas entranhas surgiram muitos namoros e laços matrimoniais. Bons tempos, até que esse entorno³ se transformou em lugar de prostituição. Foi o fim da minha alegria, e eu nunca mais pude apreciar aquela juventude sadia. E foi o começo da minha tristeza, pois tudo mudou dentro de mim, coisa nada agradável que prefiro não comentar. Mas, felizmente, tudo passou e a normalidade novamente se instalou. Foram, então, muitos anos de alegria, até que, coisa de uns dez anos para cá, voltei a ficar sorumbática. Olha aqui ao lado. Reparou no edifício? Na primeira oportunidade que você passar por aqui, repare bem na quantidade de casas antigas que estão sendo derrubadas para a construção de edifícios. Já ouvi dizer que é bom mesmo, para apagar certas lembranças de tempos promíscuos. Quero nem saber disso, quero saber de mim, que, tenho certeza, já devo estar na lista dos futuros desaparecidos para sempre, tudo isso em nome do progresso. Que seja, pois se até as almas que me habitaram já desapareceram para sempre, que eu espere mordazmente paciente, na certeza de fazer parte da História de Patos de Minas. E no meu dia D, deixarei saudade!

* 1: Trata-se de Maria da Silva de Melo Souza, que, em poucas palavras, narrou: Lembro-me do início da década de 1940, aquela casa era um salão de dança para jovens e adultos. Era um ambiente sadio, mesmo situado numa região que eles chamavam de “lugar de mulher de vida fácil”. Até teve muitos bailes de carnaval. Aí, quando se intensificou a prostituição por lá, o salão fechou e nunca mais voltou a funcionar como era, passou a funcionar com outros propósitos nada sadios. Foi lá que pela primeira vez eu vi o meu futuro marido.

* 2: Orzilo Arantes de Souza. Leia sobre ele em “Jardineira do Tonhozinho da Catiara na Década de 1941 − 1”, “Auto-Patos Catiara e Fotografo Geroncio”, “Residência da Família de José Caetano Maia − Aqui Nasceu a URT”, Ônibus da Década de 1960″ e “Prédio da Década de 1930”.

* 3: O imóvel localiza-se à Rua Silva Guerra, esquina com sua colega Padre Brito.

* Texto e foto (15/08/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

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