Eu olhava para a esquerda e via uma semelhante e um lote com mato. Olhava para a direita e via outra semelhante e outro lote com mato. Olhava para a frente e via mais uma semelhante e mais um lote com mato. Não perdi tempo em olhar para trás. Era assim esse nosso ambiente¹: poucas casas e muitos lotes vagos, e repletos de matos. Eu, na minha felicidade com as almas que me construíram e me ocupavam, não reparei que algo sinistro, tétrico, começou a invadir todo o nosso entorno. A primeira sensação que abalou minhas estruturas foi quando, logo ali em frente, foi-se ao chão uma casa e no lugar ergueu-se um edifício. A segunda sensação foi quando, logo adiante, poucos metros, um lote foi ocupado por um edifício. A terceira sensação é que outro lote logo ali foi ocupado por um edifício. A quarta sensação é que outra casa foi ao chão e no lugar ergueu-se um edifício. Loucura, verdadeira loucura, isso por aqui se transformou numa destruição de casas e ocupações de lotes para construções de edifícios. Meu telhado e meus rebocos têm interesse, sim, em saber o que passa pelas mentes de meus ocupantes. Infelizmente, jamais vou saber. Espremido entre esses dois aí, sinto a cada dia que meu fim está chegando. Afinal, nós imóveis somos única e exclusivamente um valor venal, única e exclusivamente uma moeda de troca para nossos proprietários. Assim é que, sendo eu parte da História de Patos de Minas, quando for ao chão, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Irineu Caixeta, em frente à sua colega Honorino Pereira da Fonseca, no Bairro Rosário.
* Texto e foto (08/04/2021): Eitel Teixeira Dannemann.