Ainda não sei com certeza o que mais minhas paredes ouvem dentro de mim, se televisão ou rádio, pois quando não é um é o outro que está ligado, e às vezes os dois de uma veizada só. Sendo assim, posso dizer sem medo de errar que sou um dos imóveis mais bem informados na Cidade, senão pelo menos aqui no Bairro Alvorada¹. Tenho ouvido sobre um tal crescimento vertical. No início não entendi bulhufas e nem me preocupei com isso, mesmo depois de presenciar minha vizinha sendo demolida para surgir esse troço aí. Até que certa vez ouvi uma voz dizendo que os edifícios vão, paulatinamente, ocupar o lugar das casas, pois diferentemente dos bairros novos, os outros não têm como crescer para os lados, então só resta crescer para cima, com os tais edifícios. Aí tremi nas bases e até meu telhado se pôs a imaginar um troço daqueles no meu lugar. E para um troço daqueles ocupar o meu lugar vai ter que acontecer o óbvio: eu ser demolida. Então fiquei chapada, e coincidência ou não, minhas portas e janelas começaram a ranger. Agora meus dias são agonizantes, imaginando quando as almas que eu aconchego me deixarão para se concretizar o meu fim. Tomou conta de mim a crise psicoestrutural. Dia desses uma retroescavadeira passou por aqui, bem devagarinho, quase que parando na minha frente. Até queda de tensão na rede elétrica eu tive. Ufa, graças, ela se foi. Ó Nossa Senhora das Casas, o que a Senhora pode fazer por mim? Se por um acaso não tiver jeito algum para evitar o meu desaparecimento, por favor, te peço com todo o ardor dos meus rebocos, que eu seja a última. Amém! E assim, além de entrar para a História de Patos de Minas, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua dos Caetés, entre suas colegas Pedro Firmino da Rocha e Queta Piau.
* Texto e foto (01/04/2022): Eitel Teixeira Dannemann.