ÉBRIO ASTUTO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Não é de hoje não, pois já rolou inúmeras vezes entre conversas políticas-psicológicas-ébrias-inúteis de gente de paletó e gravata no sol de 40º e gente de camiseta regata num frio de 5º a possibilidade de os Estados Unidos tomarem o Brasil para si, isto é, nos tomar o País na base da força militar. Defendem esses exóticos que o Brasil sendo um Estado dos EUA − USA para os chiques − a vida vai ser boa demais da conta para todos. Pelo que eu sei, nunca houve essa tentativa, entretanto, os americanos, muito mais inteligentes que nós, já nos dominam há décadas através da Cultura linguística e dos Costumes. A Cultura linguística e os Costumes americanos são adorados pelos nativos da terra do pau brasil.

Em conversas nos botecos, em praças, igrejas e no âmago do povo comum e das elites esse assunto de vez em quando rola. O que? Você nunca ouviu falar disso? Pois saiba que nos recônditos suburbanos e/ou não suburbanos esse assunto de vez em quando rola sim. Você continua afirmando que nunca ouviu falar disso? Let it be, êpa, quer dizer, deixe estar, desculpe, olha aí eu caindo na esparrela do domínio linguístico americano.

O negócio é que certa vez na Festa do Milho de 2015, na barraca dos Universitários, um grupo animado de amigos, já bem rodados, discutia justamente o dito assunto. Um deles lascou:

– Essa influência americana sobre nós só na Cultura linguística e nos Costumes é muito pouco. Precisamos ser dominados por eles, precisamos declarar guerra contra eles, precisamos juntar as nossas forças armadas e atacá-los lá. Aí, pessoal, eles vem aqui e nos dominam facilmente.

Outro se emocionou:

– Nusga, eles tomando o Brasil a nossa moeda será o dólar, que maravilha, seremos um Estado americano, tudo vai melhorar e, bão demais da conta, oficializamos de uma vez por todas o inglês como a nossa língua.

E o papo se prolongou por horas com desejos os mais estapafúrdios possíveis, uns mais que os outros, sobre a possibilidade dos EUA − USA para os chiques − nos dominarem.

Enquanto a turma discutia, um ébrio ebríssimo e sem rumo, sem eles perceberem, estava lá pertinho ouvindo tudo. Ele, o ébrio ebríssimo sem rumo, ouviu tudo caladinho, sem dar um único pitaco, até que não aguentou mais quando chegou à conclusão de que, para aquela turma, a solução para o Brasil seria o Brasil atacar os Estados Unidos e ser vencido por eles. Foi então que soltou um hum-hum e quando a turma percebeu a sua presença ele, no tradicional linguajar ébrio, aqui devidamente traduzido, perguntou:

– E se nóis vâmo lá e rebenta eles, cumé que fica?

Foi expulso à base de palavrões. Como ébrio ebríssimo sem rumo, não se sabe o rumo que ele tomou.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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