Eu aqui na minha simplicidade como imóvel, extrema simplicidade como é muito bem evidente, tenho a consciência exata do que represento. Nessa rua¹, nesse bairro, nessa cidade, nesse país e em quantas outras localidades mundo afora, imóveis como eu são erguidos para o aconchego de almas humanas, não importando as condições como somos construídos. Nossas sinas se resumem a uma só destinação, independentes da fragilidade estrutural e estética: aconchegar almas humanas, nada além disso. Eu sempre tive consciência dessa realidade: nada mais sou do que aconchegante de almas humanas, só isso. É de fazer chorar as pedras essa dura realidade. Mesmo assim nunca questionei sobre quem vem me ocupando, que tipos de almas humanas eu venho aconchegando dentro dessa minha fragilidade física. E não estranhe a falta de janela na minha frente. Atrás dessa proteção mural há um pequenino espaço tipo alpendre. Aí tem a parede frontal com janela e porta. Porque fizeram essa fachada protetiva não me importa. Porque registraram essas palavras religiosas não me importa. A religiosidade é de quem eu aconchego. Imóvel não tem religião, não tem querer, só tem a função de existir enquanto possa existir. A única pretensão de um imóvel, do mais pobre como eu ao mais suntuoso da Cidade, é pretender existir ao máximo que possa. Costuma-se dizer que macaco não olha o rabo. Eu, com licença da palavra, não tenho cabelinho na venta, não tenho topete, não trabalho para o Bispo e nem tenho dor de dentes. Jamais botarei o rabo entre as pernas, mesmo não os tendo. Inflo minhas paredes e declaro: faço parte da História de Patos de Minas e, demolida, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Doze entre suas colegas Laio Porto e Antônio Caetano de Menezes, no Bairro Bela Vista, ao lado do rocogótico barroquiano. Leia “Estilo Arquitetônico Rocogótico Barroquiano”.
* Texto e foto (01/02/2022): Eitel Teixeira Dannemann.