PLOC DA DISCÓRDIA, O

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Em 1968, enquanto os guaranás locais Artemis e Zago disputavam a preferência dos consumidores patenses e da região, dois chicletes travavam o mesmo tipo de batalha em âmbito nacional: Ping Pong e Ploc, com suas tradicionais figurinhas, que fizeram enorme sucesso entre a garotada. Era uma disputa acirrada e havia até reuniões para trocas das tais figurinhas. Foi então que o Ploc revolucionou, lançando as primeiras figurinhas-tatuagens do mercado. Era só passar saliva ou água em qualquer parte do corpo, principalmente mãos e braços, apertar a figurinha e lá ficava estampada a tatuagem com motivos totalmente inofensivos, próprios para a juventude, e que sumia com uma leve esfregada de bucha. Como dizem os jovens de hoje, foi um auê. Óbvio, que pouquíssimo tempo depois o Ping Pong lançou as suas e emparelhou a concorrência.

Na época, meu pai tinha uma fábrica de doces (Doces Rainha, goiabada e marmelada embaladas em caixinhas de madeira de pinho), na esquina da Rua Dr. Marcolino com Avenida Brasil. E também uma empacotadora de especiarias, também de nome Rainha, na Avenida Getúlio Vargas quase esquina com a Rua General Osório. Foi quando ele trouxe para Patos de Minas o revolucionário Ploc com as figurinhas-tatuagens. Não posso afirmar com exatidão se fui o primeiro na Cidade a ter no corpo as famosas figurinhas-tatuagens. Mas afirmo com total certeza que fui o primeiro a frequentar o Colégio Marista com elas.

Eu estava com 11 anos de idade e após o pré-primário na Escola de Dona Madalena e quatro anos de primário no Grupo Marcolino de Barros, frequentava o primeiro ano ginasial no Colégio Marista. Era mês de maio da Festa do Milho e do meu aniversário, um frio danado às 7 horas da manhã. Enquanto esperávamos o padre, pois sempre vinha um padre antes do início das aulas para fazer uma oração, tirei a japona e mostrei aos colegas as palmas das mãos e braços repletos de tatuagens. Foi um fuzuê danado. E no meio desse fuzuê, chegou o padre. E quando o padre me viu com os braços esticados, arregalou os dois olhos e disse o que até hoje soa em meus ouvidos:

– O que é isso, que sacrilégio é esse?

Imediatamente fui levado à diretoria para esperar a chegada de meu pai, já imaginando-me receber um castigo abismal. A conversa de meu pai com os padres foi um pouquinho esquentada, pois para eles, eu com os braços esticados com aquelas sujeiras no meu corpo era um sacrilégio às chagas de Jesus Cristo e eles não poderiam aceitar um aluno com esse tipo de procedimento. Felizmente, tudo terminou naquela de que nunca mais eu faria aquilo. O castigo? Veio: um mês sem frequentar o Caiçaras e não ganhei a esperada mochila escolar com estampa dos Beatles.

O que aconteceu depois? Não me lembro se isso aconteceu nas outras Escolas. Só sei que no Marista as figurinhas-tatuagens do Ploc foram terminantemente proibidas, o que gerou uma problemática danada para as mães. Como as tais figurinhas-tatuagens caíram no gosto da garotada, as mães, no preparo dos filhos para as aulas no Marista, tinham que verificar se os mesmos estavam limpos do pecado!

Até quando isso perdurou? Não sei!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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