Eu já fui uma, apenas uma, unicamente uma. Na simplicidade do meu interior, ornado por aparatos mais singelos que um broto de capim gordura, eu aconchegava almas que jamais me completaram e nunca completaram-me. Vivo há anos sem reboco em algumas paredes, sentindo ora os rigores do frio, ora os escaldantes raios solares ou as tenebrosas chuvas. Assim vivi muitos e muitos anos, remoendo-me a esperança de algum dia ter a aparência de uma casa pronta. Ao invés disso, começaram a me dividir. Aí então me transformei em duas mais econômicas de espaço. Passado um tempo, dividiram-me novamente, e eu me transformei em três, com a infelicidade de que a cada retalhamento eu me desfigurava. Hoje me transformei nisso, e já não tenho mais condições de me qualificar. Sabedora eu sou que jamais e em tempo algum receberei qualquer tipo de reforma. Consciência eu tenho de que meu destino é o mesmo de muitas de minhas semelhantes em volta de mim¹ e por toda a Cidade. É a certeza absoluta de que, mais dia ou menos dia, serei transformada em entulho. Da minha existência, que é presente na História de Patos de Minas, surgirá mais um empreendimento que vem dominando a Cidade há décadas. Aqui, onde deixarei de existir, surgirá então mais um edifício. É quando deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Avenida Paranaíba, entre as Ruas Santa Catarina e Goiânia, no Bairro Brasil.
* Texto e foto (25/10/2020): Eitel Teixeira Dannemann.
