Eu aqui no meu cantinho¹ há muitos e muitos anos, satisfazendo-me como teto para aqueles que me ocupam, nunca tinha sentido isso em Patos de Minas. Eles, de uns tempos para cá, resolveram se enfurnar dentro de mim de uma maneira tal que já está me incomodando. Poucos saem, e quando saem não demoram muito. Falam de um tal de Covid-19, falta de ar, que está morrendo gente no mundo todo, credo, trem mais esquisito, nunca tinha passado por isso. E o pior, danura de coisa feia, quando vão à rua põem um pedaço de pano na cara. É Carnaval, por um acaso? Eu que já estou numa baita ansiedade, que venho sofrendo com essa predaiada que está surgindo ao meu redor no lugar de minhas semelhantes, que fico imaginando um milhão de porqueiras que possa acontecer comigo e que ficava aliviada quando me via sossegada com as minhas estruturas tijolais ansiosas, agora foi-se o sossego, é movimento aqui o dia todo, televisão ligada o dia todo, som de celular o dia todo, fogão aceso o dia todo, um abre e fecha de geladeira que não se acaba. Eles vão ver só depois os preços das contas. Ainda por cima reclamam que o dinheiro está pouco, e dois deles foram buscam uns tais de 600 reais do governo, pelamordedeus, até quando vou suportar isso? Esse cantinho aqui era calmo, só tinha casas, agora olha só isso em volta de mim. Estou prestes a me tornar escombros e nessa minha agonia ainda tenho que ficar ouvindo esse blábláblá o dia todo. Poupem-me, por favor, posso não ser uma mansão, mas sou parte da História de Patos de Minas, ninguém tira isso de mim, e quando eu me for, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua Paulina Ferreira esquina com a sua colega Juca Mandu.
* Texto e foto (08/05/2020): Eitel Teixeira Dannemann.