DEIXAREI SAUDADE − 173

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Será que estou viajando na maionese? Já ouvi essa expressão por aqui¹ nos meus vários cômodos: viajando na maionese. Pelo que minhas paredes, janelas, portas, telhado e lá vai fumaça entenderam, esse tal de viajando na maionese quer dizer que determinada pessoa está fora da realidade. É, será que, mesmo sendo um imóvel, estou mesmo viajando na maionese? Será que não estou tendo consciência do que está acontecendo ao meu redor e por isso estou perdendo a noção do tempo, a noção da realidade? E o que está acontecendo ao meu redor? Percebo que vários imóveis mais simples do que eu estão sendo demolidos. Pra que? Ora, óbvio, para cederem lugar ao progresso, os tais edifícios. Será que estou tendo a pretensão de que, por me considerar um pouco melhor que os outros imóveis, vou escapar? Será então que estou mesmo viajando na maionese por me considerar isenta do que está acontecendo ao meu redor? Venha-me, Santa Ifigênia, protetora dos imóveis, não me considere orgulhosa, por favor, apenas entenda-me, não quero ser demolida, não quero ceder lugar a um edifício, quero viver para sempre, como aqueles meus semelhantes tombados pelo Patrimônio Histórico. Vestindo a argamassa da humildade, se por um acaso não houver um modo de me safar da demolição, que seja, Santa Ifigênia, caio-lhe aos pés e entrarei para a História de Patos de Minas, na certeza de que deixarei saudade.

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Marechal Floriano entre suas colegas Barão do Rio Branco e Dona Luiza, no Centro.

* Texto e foto (02/08/2021 ): Eitel Teixeira Dannemann.

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