DEIXAREI SAUDADE − 147

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Muito sinistro, esquisito demais da conta, não dá para entender, estou mais perdida que cego em tiroteio. Afinal, como compreender que eu, uma casa que foi sempre movimentada, não mais que de repente, sumiram todos. Gente do céu, o povo daqui escafedeu-se, e não foi ontem nem anteontem, nem no mês passado e nem no ano passado. Depois que colocaram uma faixa de aluga-se na minha varanda de cima eu logo imaginei que não ficaria muito tempo sozinha. Mas o tempo foi passando, passando e, se não engano, já se vão uns três a quatro anos que me encontro nessa solidão, tanto tempo que as letras da faixa se apagaram. Trem mais doido, sô, parece até poste mijando em cachorro.  Eis que nesse tempo edifícios estão ocupando muitas de nós no entorno, bem aqui pertinho de mim¹. E eis que… peraí, será que desistiram de me alugar para jogaram-me ao chão como as outras e aqui construírem um edifício? Ô disgrama, será esse o meu destino final? E ainda tem que, desde o ano passado, um mundaréu de gente passa por mim usando máscara. Será que depois de tanto tempo desocupada estou catingando tanto que o povo tem que usar máscara ao passar por mim? É, estou mesmo desorientada e sem saber o que vai me acontecer. Se for realmente a demolição, quem há de impedir e me salvar? Ninguém! Então, que seja, mas pelo menos tenho ciência absoluta que faço parte da História de Patos de Minas, e quando eu sumir daqui, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Praça Dom Eduardo esquina com Rua Deiró Borges.

* Texto e foto (28/12/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

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