SEU CATONHO & DONA MARIQUINHA

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O domingo de 07 de janeiro de 1962 amanheceu com um sol exuberante. E exuberante de satisfação foi o despertar do Seu Catonho. Por quê? Ora, Seu Catonho, 73, viúvo há 6 anos, havia conhecido a Dona Mariquinha, 73, igualmente viúva há 6 anos, moradores na mesma Rua Cesário Alvim e mais ainda: os dois torcedores fanáticos do glorioso Mamoré. Quatro saudáveis coincidências! E essas coincidências iam se juntar pela primeira vez numa partida de futebol no Estádio Waldomiro Pereira, oportunidade em que o esmeraldino receberia o Tupi para uma peleja válida pelo campeonato da Cidade na tarde daquele dia. Foi difícil e angustiosa a espera do Seu Catonho pelo momento de adentrar às dependências do campo de futebol de braços dados com sua namorada Mariquinha.

Cavalheiro nato, Seu Catonho fez questão de buscar Dona Mariquinha em casa. De braços dados, garbosos, adentraram ao estádio. Apaixonados que eram pelo clube, resolveram assistir ao jogo agarrados ao recatado alambrado. Recatado sim, pois naqueles idos tempos o ambiente nos campos de futebol ainda era suave. Ó, quanta alegria para os dois. O Mamoré estava num dia de glória, fez dez gols e levou apenas quatro¹. No último tento, o Seu Catonho se empolgou tanto que saiu pulando pelo corredor abaixo da pequena arquibancada. Esquecendo-se de sua longevidade etária, trupicou e desmoronou-se ao chão. Nessa, sua dentadura escapou-lhe do ambiente natural, quicou no cimento e caiu a seus pés.

Dona Mariquinha se exasperou, escabelou-se ao ver o seu novo amado estrebuchado e se contorcendo em dores. Afastando aqueles que já prestavam os primeiros socorros, abraçou a sua continuidade de vida a dois com muito ardor. Seu Catonho, sentindo aquele calor especialíssimo, reanimou-se, mirou o ambiente percorrendo a língua entre as gengivas nuas, sentiu a falta da armadura dental postiça. Olhou para a amada, olhou para os presentes e eis que, lá estava ela, a dentadura, a seus pés. Pego-a, deu-lhe um expressivo assopro para eliminar as sujeiras e… ajeitou a mordedura na boca. E nessa, ajeitando a dita, Seu Catonho sentiu um tremor violento como se estivesse caindo de novo. Nada mais foi que a Dona Mariquinha largando-o bruscamente, indo embora e dando por encerrado o namoro.

Alguns, depois do ocorrido, lamentaram a atitude da Dona Mariquinha, que deixou o Seu Catonho numa tristeza de dar dó. Mas, para outros, foi justamente essa não coincidência de dentes naturais que separou o casal. Coisas da vida!

* 1: Leia “Mamoré 10 x 4 Tupi – 07/01/1962”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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