Vontade, e muita, eu tenho em identificar o sujeito que, aproveitando que meu dono abriu o portão para deixar uns trecos aqui dentro de mim, me apontou uma câmera e registrou o meu estado de penúria. Que meu dono me deixou nessa situação é uma coisa que só ele, familiares e amigos sabem; outra coisa são esses curiosos que querem se aproveitar da dor alheia. Pra que isso? O que é que esse fotografozinho tem a ver com o meu sofrimento? Fui erguida aqui no entorno da Praça Dona Genoveva nos áureos tempos em que só existiam casas. Nesse meu sofrimento, de positivo só existe o muro alto que me esconde do povo. Mas, ora disgrama, veio esse cara aí para me fotografar num momento em que me escondo de todos. Pergunto novamente: pra que isso? Qual a intenção dele? De que adiantou todo o tempo de aconchego às almas que me habitaram? Aproveitaram-se de mim o quanto puderam e, já há muito, simplesmente me abandonaram. O que vai ser de mim? Um edifício, é óbvio, esses monstrengos do progresso que surgem na cidade que nem formiga no açúcar. Danura, sô, que venham logo e resolvam a minha situação de uma vez por todas. Sim, derrubem-me logo, acabem com meu sofrimento, eu que já pertenço à História de Patos de Minas e deixarei saudade!
* Texto e foto (16/05/2020): Eitel Teixeira Dannemann.