Passe o tempo que for, jamais me esquecerei daquele trágico dia 30 de agosto de 1948. Sim, sou muito antiga, uma apreciadora do tempo, de tanto tempo que já soprou minhas veteranas paredes. Durante todo esse tempo venho acompanhando sistematicamente as transformações dessa avenida, o ambiente dos grandões de outrora¹. Por aqui o movimento de figurões era intenso. De repente, num abre e fecha de portas e janelas, eis que todo aquele pessoal sumiu, incluindo as almas daqueles que me construíram. De repente, entre florações de mangueiras e jabuticabeiras, as minhas irmãs de então foram desaparecendo, tornando-se escombros para cederem lugar ao progresso. Restam poucas, e isso dói, mas nada me dói mais do que o acontecimento horroroso daquele fatídico dia. Até hoje, e assim vai ser até o dia do meu fim, a cena daquele avião caindo à porta do Grupo Escolar Marcolino de Barros estremece meus alicerces². Só quando me lembro do vazio que me acomete é que esqueço aquilo e me concentro no meu futuro. Dizem que a água abre caminho mesmo através das rochas e quando tem pela frente qualquer obstáculo ela sempre encontra outro rumo. Infelizmente, para mim, não sou e nunca serei água para encontrar uma saída que evite o meu extermínio. A cada olhada ao meu entorno e ao meu estado de abandono incluindo arbustos crescendo em meu telhado percebo que, mais dia ou menos dia, a especulação imobiliária me dará o golpe fatal, findando assim uma importante parte da História de Patos de Minas. Vai-se um ciclo e vem outro, morre o velho e vem o novo. Mas, indubitavelmente, deixarei saudade!
* 1: O imóvel está localizado no n.º 494 da Avenida Getúlio Vargas entre as Ruas Farnese Maciel e Marechal Floriano.
* 2: Leia “1.º Acidente Aéreo” e “1.º Acidente Aéreo − Os Corpos”.
* Texto e foto (29/03/2019): Eitel Teixeira Dannemann.