As amigas Judith e Norma, no auge de seus 60 anos muito bem vividos, estavam com ideias repetidas e por isso resolveram trocá-las na praça de alimentação do Centro Comercial Pátio Central. Saboreando um chope gelado acompanhado de batatas fritas, viajavam num passado que elas jamais esquecem, desde os tempos de infância na Rua Silva Guerra, passando pela Escola da Dona Madalena até a formatura na Escola Normal. Ao iniciarem essa viagem, logo a Norma reparou numa peça da vestimenta da amiga e deu-se esse diálogo:
– Judith, desculpe, agora que prestei atenção nessa sua blusa, linda de doer.
– É bonita mesmo, foi feita com uma lã especial, o maridão trouxe lá do Sul de Minas, de Borda da Mata.
– Que lã especial é essa?
– O Godofredo me contou, mas acho que ele está exagerando pra me agradar, que foram necessárias três ovelhas para confeccionar essa blusa. Exagero, né, Norma.
– Uai, se é exagero ou não o que eu não sabia é que já tinham ensinado ovelhas a tricotar.
– Ora Norma, tem dó… mas péra aí, você não está com aquela carinha feliz tradicional. Amiga, será que você brigou de novo com o Manfredo? Não, de novo não!
– Pois é, Judith, ele está meio sorumbático depois que foi dispensado da cooperativa e ontem à noite estava mais carente do que nunca. Nem vontade de sexo ele está tendo, só pensando no que vai fazer da vida.
– Uai, ele não fez concurso pra Prefeitura?
– Fez, mas enquanto não sai o resultado ele tá numa nervosia que faz dó. Aí, ontem à noite, sem querer eu petequei tudo.
– Conta, mulher.
– Estávamos deitados, ele se aconchegou e, de repente, me perguntou com quantos homens eu havia dormido antes de tê-lo conhecido. Tem base, Judith?
– E aí?
– Aí que a minha resposta, e eu repito que foi sem querer, amiga, sei lá porque falei aquilo, coisas do passado e…
– Conta logo, mulher.
– Eu respondi, e é a mais pura verdade amiga, que nunca tinha dormido com homem algum, ele foi o primeiro e único, mas com os outros antes dele eu ficava acordadíssima. Resultado: ele se levantou e foi dormir na casa da mãe dele. E agora, Judith?
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.