Já há algum tempo o assunto aqui dentro de mim é um tal de coronavírus, covid-19, sei lá o que é isso. Só sei que, pelo Mausoléu do Itagyba¹, o povo danou a ficar confinado e lá se foi o meu sossego. Meu dono, que todo dia zanzava pra baixo e pra cima, hoje quando muito vai até o passeio… e de máscara. Pra que isso? Falam até em pedras de Saraiva, Armagedon e que está vindo aí uma nuvem de gafanhotos que vai arrasar as culturas patenses e até vão comer o gado e as galinhas. Por um acaso não está mais tendo missa na Catedral? Só reparo num cadiquinho de gente, o povo sumiu, até parece que brigaram com o padre ou o bispo. Que coisa esquisita, sô. Já não basta a inquietação que me atormenta por causa da predaiada que está surgindo nos lugares de minhas semelhantes, agora mais essa, essa falação sobre gente morrendo porque não estão se cuidando. Credo. E eu? É, e eu, pois ninguém se preocupa com meus augúrios, com esse meu nó nas paredes de presenciar essa mudança radical no visual do meu entorno². Ó, estão lá agora rezando porque um amigo ou parente está com esse tal covid-19. Por que não rezam por mim? Tem um sujeito aí dizendo que toda casa derrubada faz parte da História de Patos de Minas. E eu com isso? Quero é sobreviver, quero fazer parte da nossa História em pé. Mas, deixa estar, se um dia eu for, arre égua, com certeza deixarei saudade!
* 1: Leia: “1.º Mausoléu do Cemitério Santa Cruz”.
* 2: O Imóvel localiza-se à Avenida Getúlio Vargas, em frente à lateral direita da Catedral de Santo Antônio.
* Texto e foto (29/03/2020): Eitel Teixeira Dannemann.
