Não canso de olhar para a minha vizinha aí da frente, na Rua Agenor Maciel entre Teófilo Otoni e Ana de Oliveira, que antes de ser posta à venda, aconchegava uma floricultura. É porque não esqueço que há alguns dias um casal de idosos se postou em frente à minha fachada. O senhorzinho olhou a minha vizinha de tudo quanto era jeito. A senhorinha também. Aí ouvi ele dizer: – Olha só, a casa está à venda. Ela perguntou: – Será que vão reformá-la ou derrubá-la para a construção de mais um prédio?¹ Dito isso os dois seguiram seu caminho e daí em diante um monte de pensamentos ruins dominou minhas entranhas. Não é de hoje que tenho maus pressentimentos a meu respeito, e ouvir o que os dois idosos disseram foi como se eu sentisse as picaretas me destruindo. Sabe-se lá o que a vizinha está pensando da vida. Mas eu, ó angústia, estou num estado de abandono físico terrível. Não sei se atualmente tenho ou não morador, pois o que estou vivendo não pode ser caracterizado como casa ocupada. Eu não me recordo mais como é ser feliz, nem o que é sentimento. Por que é sempre assim? Tudo bem, um dia até as pessoas morrem. Mas quase todas elas não morrem como nós, que de uma hora para outra somos simplesmente abandonadas e derrubadas por causa da especulação imobiliária. Há anos venho observando que as minhas contemporâneas estão sendo destruídas. A rua já não é a mesma. Estou a cada dia que passa mais isolada do outrora mundo onde fui muito feliz. Se eu pudesse fazer um pedido desejaria ter de volta todas aquelas almas que me habitaram, quem sabe para que tudo fosse diferente, pois quem pensa que a distância faz esquecer, esquece que a saudade faz lembrar. E assim vou me preparando para meu fim. Não há data, não há horário, não haverá coincidência. Há apenas um destino para mim: a ruína. Que seja, mas vou em paz, pois sei que desde o primeiro tijolo assentado passei a fazer parte da História de Patos de Minas. E deixarei saudade!
* 1: Leia “Deixarei Saudade – 27”.
* Texto e foto (22/04/2017): Eitel Teixeira Dannemann.