Lá vem mais um, dessa vez de João Pinheiro. Lá vem outro, de São Gotardo. E aquele mais arrumadinho vem de Belo Horizonte. Aquele que está saindo vai para Presidente Olegário. O outro para Paracatu. E aquele também mais arrumadinho vai para Brasília. Isso tudo é saudade, baita saudade daquela Rodoviária¹. A saudade interrompe o tempo ante ao nosso passado, sentimos falta das ausências, dos vivos e dos mortos, das manhãs de frio, de calor e das noites enluaradas de então. Por que derrubaram aquela Rodoviária? Tanto minhas paredes ouviram que ela seria transformada num centro cultural¹ que acabei por acreditar, para depois, noite após noite, eu me remoer de remorsos pela crendice. Ô saudade da Casa Beija-flor, A Patense, A Caprichosa, a Churrascaria Varanda, a Sapataria Tatão, a Pensão Bomtempo do Sr. Edson, do Bella Napole e do Veneza, dois bares que se vangloriavam servir o melhor escaldado de Patos de Minas². Saudade, poeira no vento da madrugada marcando minhas tristes paredes, portas e janelas ao presenciar a placa de aluga-se. Onde estão as almas que me ergueram? Onde estão todos aqueles que me ocuparam depois e até recentemente? Cansei dessa lengalenga. Nessa transformação estrutural e física por qual passa a Cidade, prefiro inexistir que nem a antiga Rodoviária. Como já faço parte da História de Patos de Minas, quero me transformar em escombros em paz, na certeza de que deixarei saudade!
* 1: A antiga Rodoviária situada à Praça Desembargador Frederico, onde se localiza o imóvel. Digite “antiga rodoviária” no espaço de buscas para ler vários textos sobre o assunto.
* 2: Leia “Espaço Saudoso da Rua General Osório”.
* Texto e foto (12/05/2019): Eitel Teixeira Dannemann.