Que saudade daqueles tempos em que minhas janelas ficavam abertas e ninguém dentro de mim se preocupava com isso. Aliás, havia uma única preocupação, que na realidade nem era preocupação e sim, vamos dizer, pequenos aborrecimentos com os enxeridos que não perdiam a oportunidade para reparar os afazeres dos outros. Ora, tinha demais enxerido por aqui. É o tal negócio, a gente era feliz e não sabia, pois a preocupação era só o tal do enxerimento. Quando me construíram, aqui em volta dessa lagoa era muito pobre, sendo eu, sem me gabar, uma das melhorzinhas do pedaço¹. E mesmo assim, só o enxerimento nos incomodava. Hoje, ora essa, hoje o trem não está para brincadeira não. Hoje, olhe só as grades, e olhe só janelas e portas devidamente fechadas e trancadas. Aqueles idos e bons tempos não existem mais. Eu, já idosa, reparo muito nas coisas que estão acontecendo ao meu redor, como por exemplo, que muitas de minhas semelhantes foram derrubadas para a construção de casas mais modernas ou, pior, para a elevação de edifícios. Um dia ouvi uma das almas que me ocupam comentar sobre quanto valia meu terreno e que daria um baita prédio aqui. O que isso significa? Óbvio: já estão pensando em me excluir da paisagem. Pergunto: o que fazer para evitar isso? Respondo: absolutamente nada, pois imóveis velhos vão e imóveis novos vêm, e fim de papo. Vai chegar a minha vez, estou plenamente consciente, mas ninguém tira isso de mim: sou parte da História de Patos de Minas. E quando eu for, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua Rui Barbosa com a Travessa Vila Rica, no Bairro Lagoa Grande.
* Texto e foto (23/11/2019): Eitel Teixeira Dannemann.