DEIXAREI SAUDADE – 22

Postado por e arquivado em 2017, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Ultimamente ando meio desconfiada. As conversas são desencontradas, não se fala coisa com coisa. O que tenho percebido é o pouco caso para com minha aparência. Nunca fui de me gabar, nunca me considerei bela, mas quando fui inaugurada eu era chique nesta região tão parca de recursos. Durante muitos e muitos anos me mantiveram conservada, a movimentação dentro de mim era intensa. Aliás, como era intensa a movimentação por este pedaço de cidade. Esta Rua Silva Guerra – só para lembrar, sou a número 114 – era trecho de monta na ligação do centro com o Bairro Brasil e adjacências. E outra, e tem muito homem que ainda está vivo para contar, era caminho da roça em direção às mulheres fáceis da vida, como diziam naquele tempo. Essa região aí pra baixo era onde a prostituição mandava. Mas nunca me preocupei com isso, pois não tivemos problemas. Lá se foi o tempo, célere, em que esta rua nem era asfaltada. Eu, uma das casas mais bem arrumadas por aqui, fui aos poucos sendo abandonada. Concomitantemente, venho reparando vários prédios sendo erguidos ao meu redor. Agora, está lá uma placa de vende-se na minha fachada. Será que os novos donos vão me reformar? Hum, acredito que não. Com o inexorável progresso no comando, sinto que estou prestes a encerrar o meu ciclo de vida. E quando eu for ninguém mais se lembrará de mim, a não ser as consciências que me habitaram. Mas vou em paz, consciente de que jamais deixarei de fazer parte da História de Patos de Minas. Afinal, a verdadeira afeição na eterna ausência se prova.

* Texto e Foto (19/02/2017): Eitel Teixeira Dannemann.

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