HOMEM DO TERNO, O

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Osvaldo é mecânico. A renda mensal é até boa, tanto que, casado há dois anos com a apetitosa Geralda, conseguiu construir uma casa de três quartos com suíte muito da ajeitadinha lá no Bairro Caramuru. Entretanto, ela não estava nada satisfeita com o trabalho do marido:

– Tem dó, Osvaldo, mesmo depois do banho olhe só essas suas unhas pretas de graxa.

Enquanto a esposa reclamava, ele não atinava que ela, a cada dia, mais e mais se injuriava com o desleixo do marido. Certa tarde, topou com um veterano amigo, vizinho de frente, que não perdeu tempo no alerta:

– Osvaldo, abra o olho, pois tem um sujeito que quase toda manhã lá pelas 9 horas vem aí na sua casa e fica lá pelo menos uma hora. O cara usa um terno tipo aqueles que os pastores usam e sempre tem na mão um livro que, não posso afirmar, mas parece uma Bíblia.

Ó tristeza para o Osvaldo, que ficou injuriado demais da conta com a notícia do amigo que lhe prezava muito e por isso teve a atitude de alertá-lo. E alertado, o Osvaldo se controlou, fingiu que estava tudo normal, mas doidinho da silva para no outro dia flagrar a esposa traidora. Na manhã seguinte, despediu-se da Geralda com um xoxo beijo e foi para a oficina, lá do outro lado da Cidade, no Bairro Ipanema. Quer dizer, não foi para a oficina, e sim ficou de espreita na Rua dos Guaranis a uns dois quarteirões de casa, dando tempo ao tempo. Foi quando ele avistou um pastor com o tradicional terno segurando uma Bíblia vindo em sua direção. Quando o pastor chegou, Osvaldo lhe perguntou:

– O prezado pastor está vindo de onde?

Mesmo considerando estranha aquela pergunta, ele respondeu:

– Venho da casa do Senhor.

Dizem as boas línguas que o homem de terno ficou dois dias hospitalizado no Regional com inúmeros hematomas e um braço quebrado. Quanto ao Osvaldo, foi preso e depois perdoado pelo pastor por ter sido um engano. Além, vendeu a casa no Caramuru e comprou uma no Ipanema, no mesmo quarteirão da oficina. Pelo menos até hoje, nunca mais apareceu homem algum de terno por lá.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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