Quando em 1936 o Prefeito Clarimundo José da Fonseca Sobrinho instalou o busto de Olegário Dias Maciel no canteiro central da Avenida Getúlio Vargas¹, muita gente simplória daqueles idos tempos acreditou que o monumento era uma meia-imagem de um santo fora da Matriz². Um deles de nome Geraldo, 41 anos de idade, pequeno lavrador nos arredores da Cidade, se impressionou com aquilo, o que lhe marcou a partir de então.
A vida correu célere e aos 80 anos ele era o Seu Gegê, um solitário aposentado que morava numa casa simples, mas digna e higiênica, na Vila Garcia. Quando em suas andanças pelo Centro, onde era muito conhecido, sempre se apresentava ao busto de Olegário e dizia algumas palavras. Certo dia, um de seus mais chegados, comerciante na esquina com a Rua Olegário Maciel, lhe inquiriu sobre aquela mania:
– Seu Gegê, todo dia o senhor para em frente ao busto do Olegário Maciel, parece até que conversa com ele, e depois vai embora. Por que isso?
Seu Gegê respondeu serenamente:
– Nada não, desde que colocaram ele lá eu o visito, visitinha de conforto, só isso, e aproveito e troco algumas palavras com ele.
O comerciante logo imaginou que o velhinho estava ficando gagá, e voltou aos seus afazeres. Poucos dias depois, Seu Gegê foi hospitalizado no Regional com uma grave pneumonia. Simpático demais da conta, encantou a todos com sua constante alegria. E todos se perguntavam qual o motivo que fazia aquele pobre homem demonstrar tanta felicidade em sua árdua vivência. Uma das enfermeiras lhe perguntou:
– O senhor nunca recebeu nenhuma visita, mesmo assim se sente feliz. O que lhe trás tanta felicidade?
Sorridente, o velhinho disse:
– Sou pobre, mas nunca me faltou o necessário para viver com dignidade, e em todos esses dias aqui eu recebi uma visita.
– Como assim, o senhor está aqui há dez dias e sou testemunha de que ninguém te visitou.
Com um sorriso de paz na alma, Seu Gegê explicou:
– Prezada enfermeira, nunca estive sozinho nessa enfermaria. Ali, nessa cadeira ao lado da cama, todos os dias, três ou quatro vezes, eu recebi a visita do meu amigo Olegário Dias Maciel, que vem me confortar e hoje já me alertou que amanhã vou receber alta.
E o Seu Gegê realmente recebeu alto no outro dia. Saiu feliz e sorridente, mas deixou toda a equipe clínica do hospital preocupada com a sanidade mental do bom velhinho.
* 1: Leia “Bustos de Olegário Dias Maciel”.
* 2: Leia “São Olegário”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.