Mangueiras, mangueiras e mais mangueiras. Uma das características dessa região onde fui construída¹ é que, praticamente em todo quintal, havia pelo menos um pé de manga. A do meu foi pras cucuias faz tempo. Já não são tantas quanto nos idos tempos em que surgiu esse bairro, mas há ainda muitas delas pelos quintais afora, […]
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DEIXAREI SAUDADE − 213
Pouco tempo depois que fui construída fiquei sabendo que essa rua tem o nome de um padre¹. Mais do que óbvio, achei deverasmente esquisito, afinal, surgi quando o movimento em busca de prazer sexual era grande em quase todas as casas daqui e nas do entorno. Quanto a mim, bem, digamos que… acho melhor deixar […]
DEIXAREI SAUDADE − 214
Não dá, realmente não dá pra entender esse povo que me habita. Certa vez resolveram plantar um pé de chuchu. Sabe aonde plantaram esse pé de chuchu? No passeio, tem base! O povo sabe que o chuchu pra crescer precisa ser amparado em estacas. Sabe o que usaram como estacas? O meu muro, tem cabimento? […]
DEIXAREI SAUDADE − 215
Tem um comércio de móveis bem em frente¹. Daqui do meu canto fico, na minha simplicidade, apreciando o entra e sai e, principalmente, prestando atenção no que os humanos falam. Me intriga a trabalheira que aquele pessoal tem de todo dia colocar um mundaréu de móveis no passeio e depois outra trabalheira pra guardar. Não […]
DEIXAREI SAUDADE − 216
Quem passa por mim logo percebe que sou antiga, tão antiga que não tenho a mínima ideia de quantas almas eu aconcheguei enquanto fui residência, até de um religioso muito importante na Cidade¹. São tantos anos de vida que nem me lembro mais quando deixei de ser residência para ser comércio, variados comércios. Durante muito […]
DEIXAREI SAUDADE − 217
Sou um imóvel privilegiado na Cidade. Não estou me referindo a valor econômico, a características estruturais de beleza, nada disso. Eu me refiro a sentimento e caso você aí não saiba, todo imóvel tem sentimento, não como o dos humanos, é muito diferente e muito complicado, por isso não vou perder tempo com explicações. O […]
DEIXAREI SAUDADE − 218
No âmbito da minha existência, uns dizem que meu estilo arquitetônico é o Barroco. Outros dizem que é o Rococó. Barroco e Rococó, tem dó Deiró, não estou nem aí pra isso. Pelamordedeus, e ainda tem uns dizendo que é neoclássico. Ora bolas, quero saber disso não, pouco me importa o nome do meu estilo, […]
DEIXAREI SAUDADE − 219
Eu só sei que essa região na baixada do Rio Paranaíba começou a ser invadida por casebres, só isso, não me lembro de quando isso começou. Também não me lembro de quando fui erguida, pobre, tremendamente pobre, um casebre como todos os outros. Eu não tinha esgoto, não tinha energia elétrica e nem água tratada. […]
DEIXAREI SAUDADE − 220
Não é para me gabar não, mas me fizeram uma cirurgia plástica que eu adorei, fiquei nos trinques. Agora sim, estou linda, fazendo jus a essa rua tão importante da Cidade. Nessa de gostar de minha aparência atual, sempre me vem lembranças de alguns anos atrás vividos com muita emoção. Êpa, vacilei nessa, pois se […]
DEIXAREI SAUDADE − 221
Tenho o costume de prestar atenção no que as almas que me habitam conversam entre si. Com isso, fico sabendo de muitas coisas interessantes sobre o nosso passado. Por exemplo, sobre essa ladeira onde fui construída no tempo em que era de terra, pois nem cascalho tinha¹. Uma vez eles contaram que uma picape com […]
DEIXAREI SAUDADE − 222
O humano é um animal complicado demais da conta. E bota complicado nisso. Pra tudo ele é complicado, geralmente tornando situações fáceis de resolver em enormes problemas. Quando é com imóveis então, pelamordedeus. Aí entra todo tipo de insensatez, sendo a insensibilidade a principal delas. É que eles nos usam quando querem até se cansarem, […]
DEIXAREI SAUDADE − 223
O Natal esta aí, e eu já passei por muitos Natais, tantos que não me lembro de quantos. Só sei que entre tantos Natais acompanhei o desenvolvimento dessa região, de simples loteamento para gente humilde e que hoje, não tão humilde assim, se transformou num bairro só de casas e que aos poucos vai se […]