DEIXAREI SAUDADE − 214

Postado por e arquivado em 2022, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Não dá, realmente não dá pra entender esse povo que me habita. Certa vez resolveram plantar um pé de chuchu. Sabe aonde plantaram esse pé de chuchu? No passeio, tem base! O povo sabe que o chuchu pra crescer precisa ser amparado em estacas. Sabe o que usaram como estacas? O meu muro, tem cabimento? O resultado é que a planta foi subindo e chegou ao meu telhado. É claro que chamava a atenção de quem passava e via aquilo¹. Aí, era chuchu pra todo lado e aqui dentro de mim tinha purê de chuchu, suflê de chuchu, sopa de chuchu e até chuchu recheado, sabe com que? Com chuchu! Tornei-me uma enchuchuzada. Tem dó Deiró, não estava mais aguentando o cheiro de chuchu. Então, graças, deu uma danura no povo daqui e pimba, arrancaram o pé de chuchu. É ou não é esquisito esse povo que eu aconchego? Pronto, foi-se o chuchu e agora o que me atazana a vida é essa nova mania na Cidade: derrubar casas para a construção de edifícios. Não sei se isso é mais esquisito que chuchu no telhado. Pelo menos, só o cheiro do chuchu me incomodava. Fora isso, não me ameaçava perigo algum. Essa demolição acentuada de nós para o erguimento de prédios, isso sim está me deixando de telhado quente. Isso sim é uma real ameaça à minha integridade física. Por causa dessa nova neura, eis que me deu saudade do chuchu, pode um trem desse? Agora só fico pensando que vão fazer comigo o mesmo que fizeram com o chuchu. Como não posso fazer absolutamente nada para mudar o rumo dos acontecimentos, já que ninguém segura o progresso, e como os humanos também desaparecem, que seja, deixa estar, já faço mesmo parte da História de Patos de Minas, vou é levando… levando… e quando chegar a minha vez, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Ouro Preto em frente à Lagoa Grande. Leia “A Casa do Sechium Edule”.

* Texto e foto (21/08/2022): Eitel Teixeira Dannemann.

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