Tenho o costume de prestar atenção no que as almas que me habitam conversam entre si. Com isso, fico sabendo de muitas coisas interessantes sobre o nosso passado. Por exemplo, sobre essa ladeira onde fui construída no tempo em que era de terra, pois nem cascalho tinha¹. Uma vez eles contaram que uma picape com seis porcos na carroceria resolveu descer a rua que era um lamaceiro danado. Ora, o motorista não conseguiu segurar a picape no freio, ela desceu deslizando na lama, chegando a rodar e caiu emborcada lá embaixo na rua também enlameada. O motorista só teve leves ferimentos e os porcos, muito engraçado, também sem ferimentos, sumiram cada um prum lado no meio do barro. Dizem que pelas redondezas muitos passaram um tempo comendo carne de porco de graça. Os anos se passaram, primeiramente calçaram a rua e depois asfaltaram e também todas por aqui. Aí ficou bão demais da conta. Tenho dó é de bêbado que resolve subir ou descer. Quando me repara, pensa que sou torta e, manguaçado, desiquilibra. Já vi alguns trupicarem com machucados sérios. Bem, e daí tudo isso? Daí é que por aqui as coisas estão ficando diferentes demais da conta. As casas antigas como eu estão sendo demolidas pra construção de edifícios. Ah, lembrei também de um cavaleiro que escorregou na lama e se esborrachou lá embaixo, ele e o animal, sem maiores consequências. Voltando ao hoje, penso no amanhã. Qual será meu amanhã? Tenho certeza do que vai acontecer comigo: escombros! Quando, não sei, mas vai ser, e será o momento d’eu me confirmar na História de Patos de Minas. E deixarei Saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Sacramento, quase esquina com sua colega Major Jerônimo, no Bairro São Francisco.
* Texto e foto (22/10/2022): Eitel Teixeira Dannemann.
