Mangueiras, mangueiras e mais mangueiras. Uma das características dessa região onde fui construída¹ é que, praticamente em todo quintal, havia pelo menos um pé de manga. A do meu foi pras cucuias faz tempo. Já não são tantas quanto nos idos tempos em que surgiu esse bairro, mas há ainda muitas delas pelos quintais afora, como no caso desses meus vizinhos. Outra característica dessa minha região é que quase todas as casas eram assim simplórias como eu. Com o desenvolvimento do bairro, muitas delas foram transformadas e surgindo outras mais estilosas, além do calçamento de todas as ruas com asfalto, pedras ou bloquetes. Nesse transcorrer do tempo, várias almas tiveram a oportunidade de serem aconchegadas por mim. O tempo passou rápido como o voo do falcão-peregrino, que por sinal, uma das minhas felizes lembranças, meu telhado recebia constantemente a visita de um casal dessa bela ave. Bons tempos que agora, creio eu, parece que estão chegando ao fim. Digo isso com um pesar enorme nas minhas estruturas depois que me colocaram à venda. Não acredito, sinceramente, que alguém me compre pra vir morar aqui assim como estou. A tendência é me demolirem para a construção de outra melhor e, pior ainda, para a construção de um prédio, que é a nova moda na Cidade. Como tenho reparado no que anda acontecendo por essas bandas, aos poucos, sorrateiramente, prédios estão surgindo nos nossos espaços, significando assim que todas nós, principalmente as mais humildes como eu, estão cedendo lugar para novos empreendimentos imobiliários. É o tal progresso, e de maneira alguma tenho como evitá-lo. A História de Patos de Minas, inconscientemente ou não, sabe da minha existência. Sendo assim, quando chegar a minha vez, é claro que deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua dos Afonsos, entre suas colegas Santo Agostinho e São Miguel, no Bairro Vila Garcia.
* Texto e foto (21/07/2022): Eitel Teixeira Dannemann.