Tem um comércio de móveis bem em frente¹. Daqui do meu canto fico, na minha simplicidade, apreciando o entra e sai e, principalmente, prestando atenção no que os humanos falam. Me intriga a trabalheira que aquele pessoal tem de todo dia colocar um mundaréu de móveis no passeio e depois outra trabalheira pra guardar. Não atrapalha quem passa, pois o imóvel é um pouco afastado e não impede a passagem dos pedestres. Que trabalheira, sô, credo! Confesso que me apaixonei por alguns móveis e, desculpe Nossa Senhora dos Imóveis, sonhei ter os ditos dentro de mim. Certa vez um humano comentou o quanto esse bairro está se transformando e que não vai demorar muito tempo vai ser chique. Sei não o que ele quis dizer com isso, mas será que é por causa do nome da rua? Dia desses ouvi que várias das antigas casas como eu estão literalmente sumindo do mapa. Foi só o que ouvi. Também sei não o que ele quis dizer com isso. Sumindo do mapa? Sumindo como e de que mapa? Trem esquisito, sô! Poucos dias depois outro me encarou, cutucou o amigo ao lado e eu ouvi ele dizendo que vai chegar a vez daquela ali. Vai chegar a minha vez? Vez de que? Arre égua, que falatório muito do esquisito. Vai daí que parei de escutar esse povo que não tem o que fazer e fica por aí falando besteiras. Ou será que não são besteiras, tem mesmo a ver com mudanças no bairro? É aí que o trem complica pra mim, pois não consigo captar que tipo de mudanças. Nem, tem dó, que disgrama, sô. Êpa, será que tem a ver com a morte de um dos meus ocupantes? Será que isso significa que ele sumiu do mapa? Êpa de novo, então o sumir do mapa para o imóvel é ser demolido? Cruz credo! Se for assim, que a História de Patos de Minas me registre. E se sumir do mapa pra imóveis significa realmente demolição, que seja, mas eu, com certeza, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Ponto Chic quase esquina com sua colega Santo Antônio, no Bairro Vila Garcia.

* Texto e foto (21/07/2022): Eitel Teixeira Dannemann.