DEIXAREI SAUDADE − 217

Postado por e arquivado em 2022, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Sou um imóvel privilegiado na Cidade. Não estou me referindo a valor econômico, a características estruturais de beleza, nada disso. Eu me refiro a sentimento e caso você aí não saiba, todo imóvel tem sentimento, não como o dos humanos, é muito diferente e muito complicado, por isso não vou perder tempo com explicações. O negócio é que eu estou em frente ao terreno onde ficava a residência do major, o nosso primeiro prefeito, e foi uma das minhas maiores tristezas quando eu presenciei a derrubada daquele casarão¹. Não tenho a idade dele, sou mais nova, mas muito antiga na Cidade. Como ele, eu também era uma chácara, com tudo aberto, quando muito uma cerca de arame para não deixar vacas, bois e cavalos chegarem muito perto. Tudo por aqui foi se transformando muito rápido. O major e sua esposa se foram, muitas almas que eu aconchegava se foram também, veio o Mercado Municipal, muitas semelhantes foram sendo demolidas, nem lembro quando, mas começaram a fatiar o meu espaço e me cercar de muros por todos os lados, tudo por aqui foi asfaltado, o movimento de carroças e carros de bois foi acabando enquanto o de veículos motorizados foi aumentando, um peteco danado. Tenho muita saudade do cantar do carro de boi, do mugido do boi, do relinchar dos equinos quando transportavam seus donos, ô tempo bom. Hoje, ô disgrama, é aguentar a barulheira das motos e dos sons dos carros que nos infernizam 24 horas por dia. Sinceramente, não estou mais aguentando isso, me sinto presa cercada por paredes sem ter a mínima ideia do que está por vir. Ultimamente, numa boa, venho tendo desejos intensos de ir fazer companhia ao casarão do major. Do jeito que as coisas estão acontecendo ao meu redor, desagradáveis, melhor mesmo seria eu sumir do mapa. Sim, partir para a eternidade no além dos imóveis, fazendo parte da História de Patos de Minas. E, é mais do que evidente, deixarei saudade!

* 1: Leia “Casa do Major Jerônimo Dias Maciel”.

* Texto e foto (26/07/2022): Eitel Teixeira Dannemann.

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