QUESTÃO DA ESTRADA DE FERRO, A

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No documento “Memória Histórica Sobre o Reconhecimento da Estrada de Ferro da Vila de Santo Antônio dos Patos ao Vale do Paracatu”, elaborado pelo engenheiro Antônio Castilho, e terminado em agosto de 1891, sentimos a seriedade com que era encarada a construção daquela estrada, a qual não chegou a concretizar-se.

Diversas tentativas houve, no sentido de trazer a estrada de ferro a Patos. Prestígio sobrou aos patenses, para a concretização deste anseio. Olegário Dias Maciel, filho de Antônio Dias Maciel – um dos sustentáculos do Município – ocupou o Parlamento do Império, a Assembléia Provincial, a Inspetoria Geral das Vias Férreas, a Vice-Presidência e a Presidência do Estado de Minas Gerais, e nem assim tivemos a estrada de ferro. Num plano geral da viação férrea do Estado de Minas Gerais, apresentado ao presidente Raul Soares, foi prevista a ligação Patos-Pirapora. Notando-se que o traçado desta ligação seria, em 1923, mais ou menos o trajeto que seguiam as tropas e trabalhadores rurais, que anualmente, vindos dos sertões da Bahia, seguiam em demanda de São Paulo e das regiões cafeeiras do sul do estado, por ocasião das safras de café. Partindo de Patos, depois de passar pelo Distrito de Santa Rita a ferrovia iria a Serra da Mata da Corda, desenvolvendo-se facilmente pelo vale do Rio do Sono até, mais ou menos, as alturas do Arraial do Paredão, de onde, procurando vencer o Chapadão do Formoso, se dirigia diretamente a Pirapora. Olegário Dias Maciel foi um dos cinco membros da Comissão elaboradora do plano.

Tivemos mais um deputado – Olympio Borges – na Assembléia Provincial, outros na Câmara Federal e na Assembléia Legislativa, no período republicano.

Estrada de Ferro em Patos, só no papel. Voltamos a insistir no admirável documento já citado do engenheiro Antônio de Castilho. Ele observa a riquíssima e populosa Freguesia da Confusão ou São Gotardo, donde vinha o extraordinário desenvolvimento que apresentava a cultura do café nos municípios de Abaeté, Dores do Indaiá, Carmo do Paranaíba, Patos, Coromandel, Alegres etc., os quais, apesar das dificuldades e carestia dos transportes, já o exportavam em quantidade para os mescados do Rio e São Paulo.

A estrada, que de Patos iria a Formosa foi orçada em 13:234:276$000. Castilho observa o auxílio que a navegação do Paranaíba poderia trazer à estrada de ferro verificando que a partir de Santana de Patos o Paranaíba convenientemente desobstruído, tornar-se-ia francamente navegável. Muito significativa é a sua observação: “Sua construção pode ser adiada, mas cedo ou mais tarde, contra tudo e contra todos, e uma vez que seja devidamente estudada e compreendida pela alta administração deste Estado, há de impor-se e converte-se em realidade”.

A 13 de julho de 1892, o projeto é aprovado, depois de vencer a barreira, quase intransponível, da oposição feita por Xavier da Veiga. A estrada, pleiteada por uma empresa particular – o Bando impulsionador – acabava ali mesmo, pois o estabelecimento foi transformado em empresa estatal.

Nesta altura, Patos perdia duas estradas de ferro. Uma, cujos privilégios foram concedidos a Antônio Paulino de Abreu, a 20 de setembro de 1882; esta, concedida ao Banco impulsionador.

Em maio de 1907. “O Trabalho” (n.º 26) noticiava que a cidade hospedava a Comissão de engenheiros que fazia os estudos para a locação definitiva dos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz, composta dos Drs. Guilherme Greenhalgh e J. Heráclito de Lima.

Entrevistados, deram a “O Trabalho” (n.º 31), elementos para ampla reportagem da qual veremos alguns trechos: “A Estrada da Estação da Formiga a esta cidade tem uma extensão aproximada de 330 km. Como se sabe deverá este ano ser entregue ao tráfego o trecho até Arcos, e a ferrovia seguirá até Porto Real, atravessando o Rio São Francisco pouco abaixo deste arraial, para evitar os enormes aterros que seriam precisos nos baixos das margens desse rio. Continuada a sua marcha tocará em Bambuí, e daí sem se aproximar muito de nenhum ponto de importância, seguirá até Carmo do Paranaíba, passando10 km distante desta cidade. Tocará em Lagoa Formosa e daí virá Patos, onde terá estação nas proximidades da chacara pertencente aos herdeiros do finado Sr. Major Jerônimo Dias Maciel”.

O Dr. Greenhalgh, para fim de papo, disse: “…o ano de 1911 ouvirá o silvo estridente da locomotiva a troar os ares sertanejos…”.

“O Trabalho de número 36 volta ao assunto. Historia a linha férrea prevista para Patos, “de acordo com a sábia orientação dos norte-americanos incubiu-se ao ilustre engenheiro civil Dr. Olegário Dias Maciel de estudar o magno assunto e dar a sua abalizada opinião para o plano geral. Sua Excia. que é filho extremado desta cidade não contemplou o seu torrão natal, senão de modo a ter um ramal de Pitangui a Patos, e desse pequeno recurso de uma estrada de ferro ramal ainda era exeqüível desde que não soubesse aproveitar a Companhia de Estrada de Ferro Goyaz essa zona rica é fértil…”.

Acontece que, em 1907, o mesmo jornal e número revela que um certo senhor Edarso opinou que “… a Estrada de Ferro Goyaz fosse melhor afortunada passando pelos municípios e cidades de Patrocínio e Estrela do Sul”. Já no número 44, “O Trabalho” revela que Edarso é psudônimo do Sr. Arthur Eduardo Sócrates, representante goiano ao Parlamento Nacional, e que o Dr. Miguel Calmon, titular da pasta da viação, aprovara os estudos de Greenhalgh, de passagem da estrada por Patos.

Uma série de artigos de Edarso em diversos jornais, notadamente no “Lavoura e Comércio”, de Uberaba, eram rebatidos em Patos, por J. Caheran (Dr. Euphrasto José Rodrigues) em “O Trabalho”.

O parlamentar goiano acabou por ter campo livre e apoio para as suas reivindicações. A história é longa, e o resultado patente – a estrada ganhou Patrocínio, rumando em direção à Estrela do Sul, como a oposição queria.

É bom lembrar que, quando feria acesa a luta para desvio da estrada de ferro, em 1907, o Dr. Olegário Dias Maciel, retirado dos legislativos estadual e federal, estava em Patos, como presidente da Câmara e Agente Executivo.

O decreto 3.900, de 29 de abril de 1913, dá privilégio ao farmacêutico João Pacheco de Araújo para a construção de uma estrada de ferro que, partindo da estação de Urubu (Urubuetama) antiga Palestina, na E. F. Goyaz, vá ao povoado do Chumbo, município de Patos.

Em 17 de outubro de 1915, o Dr. Euphrasio José Rodrigues endereçou uma carta a Olegário Dias Maciel e ao Ministro da Aviação, Tavares Lyra, solicitando ajuda dos dois no sentido de prontificar a obra. Ao final ele diz, se referindo a Olegário: “Se não tivermos estrada de ferro, enquanto V. Excia. está ocupando tão elevado cargo, não a teremos nunca”.

Uma tentativa quase concretizada da chegada do “cavalo de ferro” a Patos de Minas foi através do decreto-lei 27.696, de 17 de janeiro de 1950. Engenheiros, das pranchetas aos cortes, turmas de operários, maquinaria, escritório DNEF em Patos de Minas, projetos completos e muito dinheiro gasto para uma ligação Catiara-Patos. Lá um dia, tudo voltou à estaca zero. Assim permanece.

A última “agitação” sobre o assunto aconteceu em 1996. O jornal Diga Agora, em sua edição de 1.º de novembro daquele ano, publicou a seguinte nota: “O diretor do Departamento de Via Permanente da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), Sérgio Vieira, e o engenheiro Nelson Caiaffa, chegaram em Patos de Minas na última quinta-feira (31). Eles permanecerão na cidade para procederem os levantamentos técnicos objetivando a implantação de um ramal ferroviário interligando Patrocínio, Patos e Presidente Olegário. A construção do ramal foi sugerida pelo deputado Antônio do Valle (PMDB), que justificou a proposta lembrando que o ramal agilizará o escoamento de grãos produzidos na região. Na década de 60, o município perdeu a oportunidade de ter um ramal ferroviário, cujo projeto chegou a ser iniciado através da linha Catiara/Patos. Segundo Do Valle, o sonho foi frustrado pela ação equivocada de antigos líderes políticos que trabalharam no sentido de suspender a obra. A ferrovia, conforme o deputado, é de grande importância para a região. Ele observa que o projeto depende da vontade política dos municípios envolvidos e do apoio da iniciativa privada para ser concretizado”.

De lá para cá, não se tocou mais no assunto, e a previsão do Dr. Euphrasio se mantém ativa.

* Fonte: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

* Foto: Sigep.cprm.gov.br, meramente ilustrativa.

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