ESTRADA DE FERRO, A

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A1TEXTO: ZAMA MACIEL (1950)

Um dos Pintos pediu-me para escrever um informe sôbre o problema da construção do ramal ferroviário que ligará Catiara a Patos de Minas. O jornal é pequeno, portanto o leitor desculpará o estilo telegráfico.

Está iniciada a construção do ramal. Muita gente duvida que a obra seja terminada. E estes que duvidam fundamentam os seus argumentos no fato de que, há já sessenta e tantos anos, vieram a Patos os primeiros engenheiros que estudaram o assunto. Marcaram até a estação na atual Praça Santana. No govêrno do saudoso Afonso Pena, quando a estrada de Ferro Goiaz estava lá pelas alturas de Bambuí, Olegário Maciel, então deputado, trabalhava junto ao presidente da República e ao presidente do Estado, então João Pinheiro Bulhões, para que o seu traçado tomasse a direção do espigão divisor das aguas Paranaíba-São Francisco (Guarda dos Ferreiros, Carmo, Patos, Pilões, etc.). Mortos Afonso Pena e João Pinheiro Bulhões, no Ministério da Fazenda com Nilo Peçanha no govêrno mudou o traçado por aonde se acha atualmente. A companhia faliu em virtude do erro. Em 1922, alguns patenses votaram em Nilo para presidente, porque este havia contribuído para afastar a estrada de Patos. Perguntem por aí quem foi! Quando pela primeira vez Olegário Maciel ocupou o Palacio da Liberdade, conseguiu que os dois insignes mineiros senadores Bueno de Paiva e Bueno Brandão apresentassem um projeto que se transformou em lei, mandando construir o ramal Catiara-Patos. Deixando o govêrno, foi substituido por Melo Viana. O novo presidente descuidou-se do assunto. Já o obsecava a idéia de Funchal. Para lá foi o dinheiro.

Quando pela segunda vez, Olegário Maciel esteve no Palacio da Liberdade, foram iniciados os estudos para a construção do ramal. Todos os projetos prontos. Verba pronta. A morte o surpreendeu. Benedito, que o substituiu, arranjou com Getulio outra maneira de empregar o dinheiro. No Ministério da Viação há até um parecer dizendo que a estrada era desnecessária e que o falecido presidente de Minas queria era valorizar as suas propriedades e as de seus parentes, em terrenos imprestaveis. Quem inspirou este parecer devia estar ligado ao Palacio Liberdade.

Dutra, em 1945 é candidato. Inscreve no seu programa de govêrno a construção do ramal. Discurso de Belo Horizonte. Leopoldo Maciel, na mesma eleição, torna-se deputado federal pela U.D.N. Inicia a batalha. Apresenta os necessarios projetos de lei. Luta titanicamente nas comissões. Logra vencer. O Presidente o apoia. São iniciados os estudos. Engenheiros competentes e trabalhadores assumem a direção dos trabalhos. Estudos terminados. Falta o empenho da verba. O ministro interino da Fazenda, o “famoso” Ovidio Abreu, tenta impedir o empenho da verba para agradar a Benedito. O Presidente cumpre a sua palavra. A verba é empenhada. Trabalho árduo e melindroso de Leopoldo Maciel e seus amigos. Cumpre nomear entre estes Daniel de Carvalho, Juraci Magalhães e Gabriel Passos. Trabalhos começados e gente perversa nas esquinas dizendo que “este barulho de estrada é só para tapiar os bobos. Estamos nas vesperas das eleições. O Leopoldo nada tem que ver com isso, etc.” A estes comentários que incomodaram a consciência do Pinto que me pediu estas notas, tenho que responder o seguinte: o deputado Leopoldo Maciel jamais garantiu que a estrada de ferro estaria terminada ou que viria a Patos. O que prometeu era, discretamente aliás, trabalhar para que este velho sonho dos patenses fosse realizado. Os trabalhos estão iniciados. Se serão terminados, ninguem o sabe. Mas caso o sejam, é obra sua, somente sua junto ao Parlamento e junto ao preclaro presidente Eurico Dutra.

Poderá o senador Melo Viana bater caixas e tentar anular-lhe o trabalho, apresentando emendas que visem levar a verba áquele saco sem fundos que se chama Funchal. Poderá acontecer que consiga iludir os conhecimentos geográficos dos senadores e trocar nomes no apagar das luzes dos trabalhos parlamentares. Poderá mostrar a sua ignorância dos problemas de nossa região e profundo desconhecimento de sua geografia econômica, quando faz propaganda pela imprensa, condenando a construção do ramal. Tudo isso poderá acontecer, como há patenses que lhe batem as palmas, esquecendo-se de que estas palmas ecoarão pelo nosso meio como o amadurecido fruto do despeito.

A ação do presidente da República e o trabalho do deputado Leopoldo Maciel serão coroados de êxito depois das eleições. O povo esclarecido e que está vendo, responderá a estas manobras ocultamente organizadas e que visam justamente as eleições, onde as ambições serão varridas pelo voto do povo bom e ordeiro de Patos de Minas.

*Fonte: Texto publicado na edição de 1.º de janeiro de 1950 do jornal O Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Euamoipatinga.com.br, meramente ilustrativa.

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