CARTA DO DR. EUPHRASIO JOSÉ RODRIGUES PARA OLEGÁRIO DIAS MACIEL SOBRE A ESTRADA DE FERRO

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

A luta para a construção de uma estrada de ferro em Patos de Minas foi em vão¹. Nem mesmo tendo Olegário Dias Maciel como Presidente do Estado de Minas Gerais o sonho dos patenses se tornou realidade. Uma das inúmeras ações dos vários abnegados que lutaram para ter a estrada, é a carta que o respeitado médico Euphrasio José Rodrigues remeteu em 1915 a Olegário, então Consultor Técnico do Dr. Tavares Lyra, Ministro da Aviação, solicitando que eles providenciassem a vinda da estrada de ferro.

Exmo. Snr.

Se é belo o caráter do médico, que alivia padecimentos individuais com o sacrifício dos próprios confortos, não o é menos belo o do estadista que, compenetrado no papel social e regenerador da medicina política, entorna por todos os lados os benefícios de suas expansões humanitárias.

Dr. Olegário, Patos sofre por falta de vias de comunicação; V. Excia. representa para nós a estrela polar da esperança; nas mãos de V. Excia. está a salvação deste torrão, onde tateou seus primeiros passos, e onde seus habitantes sufragaram o vosso nome em 9 legislaturas consecutivas. Bem sabemos que V. Excia. é, por índole, avesso aos pedidos. Mas, há pedidos que só podem honrar os requerentes.

O receio de uma negativa não vos pode entibiar o ânimo; pois o Dr. Tavares Lyra também tem pátria, também tem esse estremecimento por este cantinho de chão, por esta nesga de céu, onde passamos descuidosos os melhores dias de nossa mocidade. Não se diga que o amor da pátria acaba, quando a mocidade acaba. Pelo contrário. É na velhice que ele se torna mais extreme. Assim pensam todos os próceres. Assim pensaram Wenceslau Braz, Bueno Brandão, Delfim Moreira e Gaspar Lopes, só para enumerar mineiros.

Que foram as cidades de Ouro Fino, Santa Rita, Itajubá e Alfenas? Posso dizer ao povo, porque, há vinte anos, as conhecemos de perto.

Santa Rita era o covil dos jogadores, era uma casa de batota. Ouro Fino vivia de exportação de bananas, e Itajubá não exportava cousa alguma, porque nada tinha. O que são hoje estas cidades? São cidades de primeira ordem, notadamente pelos seus estabelecimentos de instrução, pelas suas fábricas e pelo seu progresso.

Antigamente eram servidas pela pior estrada de ferro do mundo – a Sapucaí – tanto que os viajantes preferiam andar à cavalo a transitar nela. Hoje são muito boas cidades, graças aos esforços de Delfim Moreira, de Bueno Brandão e Wenceslau Braz.

Costuma-se acreditar naqueles que vão morrer.

Patos vai morrer.  Seu progresso nascente perecerá infalivelmente, se a estrada de ferro aqui não chegar. A Companhia Força e Luz não se poderá manter, se a indústria aqui não se desenvolver. E esta não pode desenvolver-se sem vias de comunicação, para exportação de seus produtos.

Que o estadista nada queira para sua família, estou de acordo.

Pois, que os maledicentes e os invejosos podem querer marcar-lhe o nome e a reputação ilibada.

Porém, querer melhoramentos para sua pátria, para o seu torrão, é obrigação que tem. Estou certo que V. Excia. há-de acudir-nos nesta emergência.

A terra criada pelo coronel Antonio Dias, em dezenas de anos de abnegação profunda, apela pelo seu filho primogênito. E como diz grande escritor, à algum cético fosse dado fazer levantar o morto de seu leito de pedra, para perguntar-lhe à vista do desalento que vai pelas fibras da nação: “O que fizeste em nosso favor?”, ele poderia responder como o grande Lafayete: “Estive sempre de pé”.

O povo de Patos, portanto, só confia em V. Excia.

Se não tivermos estrada de ferro, enquanto V. Excia. está ocupando tão elevado cargo, não a teremos nunca.

O atual ministro da aviação não havia de se lembrar do nome de V. Excia. para seu consultor e desprezar-lhe a pátria.

Os outros estadistas pouco se importam que Patos progrida ou que regrida. É o egoísmo humano, base de todas as sociedades, porque eles não têm, como V. Excia. aqui, os pedaços queridos do coração.

(a) Dr. Euphrasio José Rodrigues.

* 1: Leia “A Questão da Estrada de Ferro”.

* Fonte: Domínio de Pecuário e Enxadachins, de Geraldo Fonseca. Essa carta foi publicada na edição de 17 de outubro de 1915 do jornal Cidade de Patos.

* Foto: Dr. Euphrasio José Rodrigues, do livro Municipio de Patos, de Roberto Capri.

Compartilhe

You must be logged in to post a comment. Log in