TEXTO: EUPHRASIO JOSÉ RODRIGUES (1915)
[…] Agora tractemos da viação. Porque a estrada de ferro de Goyaz parou no caminho? Surgiram as versões; parou porque o braço potente de Olegario Maciel, impediu dizem uns. Parou porque cogita-se em outro traçado, dizem outros. “O Bambuhy” faz-se echo das arruaças e tenta crear a animadiversão, entre os dois municípios amigos até então. O actual consultor technico do Ministro da Aviação, em tempo algum se oppoz, que a E. F. de Goyaz passasse em Patrocínio. Quando, no governo de Affonso Penna, se discutiu o traçado da mesma estrada, o Dr. Olegario trabalhou para que elle passasse por Patos, e não podendo conseguir, devido ao pesado ônus, que acarretara aos cofres publicos, era indifferente ao mesmo que passasse por onde os engenheiros determinassem. Naquelles tempos, em que uma opposição tenaz e perseverante, de sua parte, devia dar lugar as serias reflexões, elle não o fez; pode agora por ventura pensar, em remover o traçado de uma estrada quasi concluida, agora que só existe nas arcas do thesouro poeira dos tempos? Vede bem como são graciosas as affirmações do “O Bambuhy”. O que fez parar o serviço, na E. F. de Goyaz, sabe-se muito bem o povo de Patrocinio; é a teta da vacca que está exgotada, os empreiteiros lutam pelas últimas gottas; o contracto mais que escandaloso da construcção da Goyaz, anemiou a mãe patria; agora é preciso que se lhe dê reconstituintes. Ao ver esta questão de Estrada de ferro entre Patrocínio e Patos, lembra-me do apologo do velho Pe. Manoel Bernardes; conta elle a historia das duas panellas, uma de cobre e outra de barro, lançadas pelo rio abaixo com a força da enchente. Rogou a de cobre á de barro, que se chegasse para ella, afim de que juntas resistissem melhor ao impeto das águas. Ao que respondeu a de barro, muito me agrada vossa amizade e visinhança, porém não vos cheguei muito para mim, pois que se eu topar comvosco, ou vós comigo, sempre ficareis inteira e eu quebrada. (Tire a moralidade quem souber.)
O Correio em Patrocínio está cortado, e em consequencia a nossa communicação com o Estado de S. Paulo. Daqui ha pouco ficaremos isolados do resto do mundo, pois que, isto aqui é o Cucuhy da Republica; quando lá pelas capitaes se der algum crime politico, é de bom preceito que se mande deportar o delinquente para Patos ou Patrocinio. Nada adiantam reclamações, quando o governo é surdo; o que é uma vantagem, pois precisa empunhar a corneta, toda vez que tem de prestar attenção, á semelhança de madame Martineau ficará ao abrigo da banalidade.
A unica cousa que o governo nos manda quando tudo está alterado, correios, viação etc. são officiaes da brigada policial, encarregados de chamar a ordem, com sua espada, os recalcitrantes, que não quiserem-se submetter ao regimem de “tudo por nós, nada pela patria”. Acontece, porém, que as vezes os recalcitrantes reunem-se e matam os officiaes, então o governo em represalia, não nos manda cousa alguma, assim é que a cidade de Patos, não se encontra um soldado. […]
* Fonte: Texto publicado na edição de 18 de abril de 1915 do jornal Cidade de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do UNIPAM.
* Foto: Dr. Euphrasio José Rodrigues, do livro Municipio de Patos, de Roberto Capri.